São Paulo, quarta-feira, 6 de abril de 1994
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Peritos depõem na Justiça e dizem ter sido pressionados

CLÁUDIA TREVISAN; ROGÉRIO ORTEGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os peritos da PF (Polícia Federal) Eduardo Laria e Paulo Cavalcante reafirmaram, em depoimento na Justiça Federal, ter sofrido pressões para realizar laudos que não revelassem o suposto superfaturamento na importação de equipamentos de Israel durante o governo Orestes Quércia (87 a 91).
As importações –para a polícia e universidades paulistas–, no valor de US$ 310 milhões, foram feitas sem licitação.
No último laudo, elaborado em novembro de 93, Cavalcante e três cientistas convocados pela Justiça concluíram que houve superfaturamento de 343% nos equipamentos importados para a Unesp (Universidade Estadual Paulista).
Eles compararam os materiais destinados à Unesp com equipamentos semelhantes existentes na empresa Mercedes-Benz.
O processo na Justiça Federal apura acusação de fraude processual contra o dono da Trace Trading Company, Arie Halpern, que intermediou as importações.
Ele e dois ex-engenheiros da empresa –George Fischer e Benzion Rembiszewski– são acusados de tentar influenciar os peritos.
O delegado da PF Antônio Decaro Jr., que concluiu o inquérito do caso em 92 sem indiciar ninguém, era outro réu do processo.
O juiz federal João Carlos da Rocha Mattos concedeu habeas corpus que exclui Decaro da ação.
Segundo Laria, chefe do serviço de criminalística da PF, Decaro forneceu aos peritos, a título de "ajuda técnica", um questionário já com respostas sobre a perícia antes que ela fosse concluída.
As respostas não foram confirmadas pelos laudos periciais.
O delegado dispôs-se a convidar Fischer para auxiliar os trabalhos, disse Cavalcante. Desde então, Fischer e Halpern teriam feito visitas frequentes aos peritos.
Laria e Cavalcante sustentam que os equipamentos apresentados pela Trace para a perícia não correspondiam aos importados.
Eles disseram, ainda, que o relatório apresentado por Decaro no final do inquérito contradizia as conclusões da primeira perícia, que já apontava superfaturamento.
O advogado de Halpern, Samuel Buzaglo, diz que a acusação contra seu cliente tem "caráter político".
Voltaire Gaspar, advogado de Fischer, observa que os depoimentos apresentam contradições.
"No último laudo, Cavalcante afirmou que os equipamentos da Unesp eram mais sofisticados que os da Mercedes. Agora, no depoimento, diz que os equipamentos eram os mesmos", exemplifica.
Procurado ontem na PF às 18h, Decaro não foi encontrado.

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