São Paulo, quarta-feira, 6 de abril de 1994
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Assumir é lutar contra o preconceito, diz Betzler

SILVIA QUEVEDO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FLORIANÓPOLIS

O arquiteto Fernando Betzler, 54, gastou US$ 6.000 para veicular na mídia o anúncio da própria morte. Lançada em 1º de abril, a campanha duraria apenas um dia, mas ganhou fôlego com o feriado de Páscoa.
Os outdoors dizem apenas uma frase: "Fernando Betzler vai morrer." Para ele, assumir a Aids é lutar contra o preconceito.
Folha – Por que o senhor resolveu investir US$ 6.000 para dizer que vai morrer, quando as campanhas contra a Aids falam mais no uso do preservativo?
Fernando Betzler – As campanhas do governo insistem no anonimato e quando mostram um doente, é sempre com o rosto velado. O anonimato é a melhor forma de incentivar a propagação.
Folha – O senhor não teve medo de se expor?
Betzler – O anonimato torna a coisa abstrata, num país em que a política de saúde é um deboche e totalmente falida. Fingir que não se vê é a melhor forma de caminhar para o genocídio. Assumir é lutar contra o preconceito.
Folha – Por que, antes de começar a campanha, o senhor não procurou o Gapa (Grupo de Apoio e Prevenção à Aids)?
Betzler – Tenho o maior respeito pelo Gapa, que trabalha em condições subumanas. Mas temos diferenças quanto à condução da campanha. Eles são neutros e eu só aconselho ser contra o anonimato. Sair dele é a oportunidade de trazer um soropositivo para a vida.
Folha – Como o senhor acha que contraiu o vírus?
Betzler – Como a maioria, eu não usava preservativo e peguei o vírus de um namorado.
Folha – O senhor enfrentou algum tipo de preconceito?
Beztler – Primeiro disse aos outros que tinha leucemia. Escondi, não por preconceito, mas porque já pensava na campanha. Graças a Deus, minha vida continua em clima de normalidade. Não tenho medo do preconceito. Minha vida depende do sucesso da campanha.

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