São Paulo, quarta-feira, 6 de abril de 1994 |
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Anos 70 reciclam sertão e morro
BIA ABRAMO
Lançamento: Warner Preço: CR$ 10 mil (o CD, em média) Era o que faltava para a coleção de relançamentos de Gilberto Gil ficar completa. Dois dos mais importantes discos da carreira do músico baiano chegam finalmente às lojas. "Refazenda", de 1974, e "Refavela", de 1975, talvez reúnam a maior quantidade de boas canções de toda a trajetória de Gil. São dois álbuns quase impecáveis, cada um a seu estilo. "Refazenda" traz um Gil mais introspectivo, voltado para a pesquisa e reciclagem de sua origem nordestina e, mais especificamente, sertaneja. É um disco basicamente agreste, embora sem a aspereza característica dos músicos nordestinos que à época começavam a aportar no sudeste. O sertão de Gil floresce na faixa-título ("enquanto o tempo não trouxer teu abacate/ amanhecerá tomate e anoitecerá mamão"), reserva a delicadeza de "Retiros Espirituais" ou a alegria de "Ê, Povo, Ê". A paisagem delineada em "Refazenda" é mais próxima dos gerais povoados de gente e bichos de Guimarães Rosa do que da secura desértica de Graciliano Ramos. Neste disco, Gil começa a exercitar algo que nortearia também seus próximos discos, "Refavela" e "Realce" –a reinvenção de ritmos, digamos, emprestados. Em "Refazenda", ele pega o forró como ponto de partida. Por exemplo, Dominguinhos comparece em duas faixas ("Tenho Sede", em parceria com Anastácia, e "Lamento Sertanejo", com Gil). No ano seguinte, Gil sobe ao morro carioca e descobre a já criativa música negra com influências de samba, funk e soul. "Refavela", que tem a participação da banda Black Rio, "revela a a escola/ de samba paradoxal/ brasilierinho/ pelo sotaque/ mas de língua internacional". À esses ritmos híbridos, retraduzidos, Gil acrescenta uma África já digerida por Salvador, numa antecipação de quase 15 anos do que seria a explosão da música afrobaiana no fim dos anos 80. "Refavela", um disco vibrante em cada uma de suas canções, também marca a adesão inequívoca de Gil à música para dançar. (BA) Texto Anterior: "Unplugged" inova nos arranjos Próximo Texto: Maluf retira o pão e mantém o circo Índice |
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