São Paulo, quarta-feira, 6 de abril de 1994 |
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Igreja de Aleijadinho está desmoronando; CONHEÇA A REVOLUÇÃO FEITA POR ALEIJADINHO NO BARROCO
MARIO CESAR CARVALHO
Obra de 1786 é única no barroco mineiro, teve seus altares retirados no início do século e já começa a ruir Uma igreja barroca de 1786 para a qual Aleijadinho criou o altar-mor, os altares laterais, os púlpitos e o coro, está desmoronando. Seria mais um dos descasos com o patrimônio histórico, não fosse algumas caracteristicas da Igreja de Nossa Senhora da Conceição do Jaguara, em Matozinhos (MG), a 68 km de Belo Horizonte: * A igreja da Fazenda Jaguara é única no barroco mineiro, estilo de arquitetura e escultura do século 18 marcado pela ornamentação. Segundo Ruth Vilamarim, 50, diretora de Proteção e Memória do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas, as fazendas mineiras tinham uma capela ligada à sede. Jaguara é a única que tem uma igreja de porte urbano, similar às matrizes, com 400 m2 (veja quadro abaixo). * O altar foi feito na mesma época e tem semelhanças com o da Igreja de São Francisco de Assis de Ouro Preto, uma das obras-primas de Aleijadinho. Quem notou a semelhança foi o pesquisador francês Germain Bazin, ex-conservador chefe do museu do Louvre e um dos maiores especialistas no barroco brasileiro. * A igreja da Fazenda Jaguara desfaz um dos mistérios sobre Aleijadinho. Os primeiros biógrafos do escultor não tinham provas documentais de onde ele estaria entre 1783 e 1790. Estava em Jaguara, segundo o historiador mineiro Zoroastro Vianna Passos. A história da igreja é romanesca desde sua construção. Foi levantada pelo coronel português Antônio de Abreu Guimarães em ato de penitência. Contrabandista de diamantes e sonegador do quinto, imposto de 20% sobre o ouro encontrado recolhido pela coroa portuguesa, o coronel se arrependeu dos trambiques e contou-os a seu confessor em Lisboa. O confessor não receitou só ave-marias e padre-nossos. Mandou-o construir uma igreja e doar os lucros da fazenda, à época com 1.200 alqueires e 750 escravos, para obras de caridade. Assim foi feito. Uma placa de madeira trazia o ano de 1786 e a seguinte inscrição abaixo de um anjo barroco: "Feito a custa de Antonio de Abreu Guimarains". Ninguém sabe ao certo quando a igreja começou a ruir. O escritor e explorador inglês sir Richard Francis Burton passou pela Fazenda Jaguara em 1867 e escreveu no livro "Viagem de Canoa de Sabará ao Atlântico" que a igreja havia sido "reparada recentemente, mas seus fiéis eram constituídos principalmente pelo sanharó, uma espécie de vespa muito brava" (leia texto à pág. 5-4). Uma foto de 1868 de Augusto Riedel mostra a igreja com o teto, e a senzala, da qual não há vestígios hoje, ao lado da casa-grande. O certo é que o inglês George Chalmers, que chegou ao Brasil em 1884 para dirigir a companhia de mineração Ouro Velho, comprou a Fazenda em 1910 do tio materno de Santos Dumont. O protestante Chalmers foi a sorte e a desgraça da igreja. Sorte porque salvou o trabalho de Aleijadinho. Mandou desmontar as peças e enviou-as a Nova Lima, a 106 km da Fazenda Jaguara. Em 1926, Nova Lima inaugurava sua moderna matriz com as talhas de Aleijadinho. O coro perdeu um metro para entrar na matriz. "É uma aberração que uma igreja moderna como a de Nova Lima abrigue uma obra de Aleijadinho", diz Lêda Torres de Andrade, 64, cujo marido comprou a fazenda dos Chalmers em 1975. A desgraça maior é que, sem as obras de Aleijadinho e sob administração de um protestante, a igreja foi ruindo. Caiu o teto, as tábuas do piso acabaram virando paiol e várias peças foram vendidas a colecionadores. Parte da desgraça é herança do coronel-contrabandista: a igreja é particular, nunca foi vinculada a irmandades, como as de Ouro Preto. Bem ou mal, as irmandades conservaram suas igrejas. Não foi falta de conhecimento dos diretores do patrimônio histórico que a igreja virou ruína. Em 1947, Rodrigo de Melo Franco Andrade, o diretor do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, publicou um texto sobre a igreja. Mas nenhuma providência foi tomada. Ela só foi tombada pelo governo de Minas em 1984, o mesmo ano em que Carlos Drumond de Andrade lançou o livro "Corpo" com um poema sobre a Jaguara - "O coruja nas ruínas da torre já anunciava "o epílogo de tudo", como escreveu Drumond. CONHEÇA A REVOLUÇÃO FEITA POR ALEIJADINHO NO BARROCO Capela - 1700 a 1720 As primeiras capelas levantadas em Minas eram feitas de madeira e barro e cobertas de sapé. Depois foram usadas taipa de pilão e telhas. Porta, duas janelas laterais e janela circular compõem a fachada em linhas retas, pintadas de cal. Não tem torre ou tem apenas uma. Exemplo: capela do Padre Faria de Ouro Preto. Matriz - 1720 a 1750 A fachada de madeira e taipa ganha duas torres mas mantém a simplicidade e as linhas retas das capelas. É no interior que está a grande diferença em relação às capelas. Com o auge do ciclo do ouro, as talhas passam a ser suntuosas e douradas e não se restringem aos ornamentos do altar. Exemplo: matriz de Sabará Igreja de irmandade - segunda metade do século 18 O uso da pedra-sabão dinamiza o barroco. O pai de Aleijadinho e ele exploram o movimento que a pedra propicia. Fachadas e paredes laterais de taipa tornam-se onduladas, as torres viram cilíndricas e as fachadas ganham relevos. O rococó domina o interior. Exemplo: Igreja São Francisco de Assis de Ouro Preto. Texto Anterior: Estréia Próximo Texto: MTV apresenta especial amanhã Índice |
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