São Paulo, quinta-feira, 7 de abril de 1994
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Divergências retardam regras para o real

SÔNIA MOSSRI; GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As divergências da equipe econômica impediram que o ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, anunciasse durante sua posse, na terça-feira, as regras de passagem para a nova moeda, o real.
Existe consenso apenas com relação à viabilidade de implantar o real em 1º de junho, apesar de o PSDB preferir a data de 1º de julho. A avaliação entre a assessoria da Fazenda é de que a adesão à URV (Unidade Real de Valor) está sendo grande, com vários preços da economia já tomando como referência o novo indexador.
Os tucanos avaliam que a criação da moeda em 1º de julho ajudaria a candidatura do ex-ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso. A inflação estaria com taxas abaixo de 5% em outubro, segundo suas projeções.
Uma das principais controvérsias na equipe é com relação ao regime cambial que vigorará após a criação do real, ou seja a relação entre o dólar e a nova moeda.
O presidente do Banco Central, Pedro Malan, o diretor de Assuntos Internacionais, Gustavo Franco, e o assessor especial, José Milton Dallari, são contrários ao câmbio fixo (valor constante do dólar na relação com o real).
Já o secretário de Política Econômica, Winston Fritsch, e o assessor especial, Edmar Bacha, defendem o câmbio fixo na primeira etapa do real para baixar a inflação com mais rapidez.
Outro ponto que centraliza as discussões é sobre o expurgo da inflação na transição entre o cruzeiro real e a nova moeda.
Expurgar a inflação é não levar em conta a variação dos índices de preços no período anterior e logo após a criação do real. O objetivo é não transmitir para nova moeda a variação de preços ocorrida na moeda antiga (o cruzeiro real).
Em outros planos, foi adotada uma tablita, com fatores diários de desconto aplicados sobre contratos prefixados. Como esses contratos, atualmente, são de curto prazo (em média 30 dias), parte da equipe acredita que com o anúncio antecipado da data de criação da nova moeda não será necessário adotar uma tablita.
A equipe não chegou a um acordo sobre os mecanismos que serão usados para expurgar parte da correção monetária no mês de criação do real e no subsequente.
Gustavo Franco, que vinha falando com desenvoltura sobre a edição de um decreto que fixaria as regras para a eliminação dos resíduos inflacionários, passou a dizer que o assunto "é muito complicado".
As regras para a URV no sistema financeiro também provocam contradições. Nas últimas duas semanas, Franco e Dallari previram para breve a criação do CDB em URV. Malan e o diretor de Normas do BC, Cláudio Mauch, avaliam que a medida seria precipitada agora.
Mais um ponto em discussão é a conversão das tarifas em URV. Dallari acredita que preços como combustíveis e energia elétrica pressionariam ainda mais a inflação se fossem corrigidos diariamente.
Há ainda problemas quanto à criação de uma diretoria especial do BC com o objetivo exclusivo de cuidar da emissão do real. O assunto é tratado com reservas porque a diretoria teria um mandato, o que precisaria da aprovação do Congresso.

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