São Paulo, quinta-feira, 7 de abril de 1994
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Pinga-Fogo renuncia e se diz frustrado com a política

DENISE MADUEÑO; PAULO CAMARGO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA E DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

Pinga-Fogo renuncia e sediz frustrado com a política
Acusado de vender mandato, deputado diz que não conseguia cumprir objetivos
O deputado Pinga-Fogo de Oliveira (PDT-PR) renunciou ontem ao seu mandato alegando frustração e decepção com o Congresso Nacional. Na carta-renúncia, o deputado aponta o descrédito da população e a sua própria "descrença" nos políticos.
A renúncia surpreendeu os deputados e dividiu as opiniões. Alguns parlamentares atribuíram a renúncia a uma jogada política, e outros ao descrédito do Congresso. O deputado paranaense Pedro Tonelli (PT) levantou a suspeita de que Pinga-Fogo tenha vendido o mandato.
"Não há outra explicação. Foi uma negociação financeira. O suplente, Abelardo Lupion, é muito rico e Pinga-Fogo estava devendo ao banco cerca de CR$ 4 milhões", afirmou. Abelardo afirmou que foi surpreendido pela renúncia.
O presidente da Câmara, Inocêncio Oliveira (PFL-PE) afirmou que se houver uma denúncia de venda de mandato vai mandar apurar: "Mandato é uma coisa séria. Eu quero saber o que aconteceu".
Pinga-Fogo entregou a carta-renúncia pela manhã e deixou o Congresso. Nem seus assessores sabiam se o deputado continuava em Brasília ou se tinha viajado para o Paraná, onde também não foi localizado pela Folha.
O deputado Carlos Roberto Massa (PTB-PR), amigo de Pinga-Fogo, afirmou que o deputado não tinha motivos para vender seu mandato, embora devesse cerca de CR$ 5 milhões.
"Eu me ofereci para pagar a dívida. Em dois meses ele resolve o problema. Pinga-Fogo é um bom deputado, um homem simples", afirmou Massa. O deputado tem o hábito de tomar café da manhã com Pinga-Fogo, mas afirmou que também foi surpreendido.
Massa afirmou que Pinga-Fogo se sentia irritado com as críticas generalizadas feitas pela imprensa aos parlamentares. Chegava a rasgar os jornais, segundo Massa.
Na carta-renúncia, Pinga-Fogo se diz angustiado por não ter como atender todas as pessoas que lhe pediam ajuda. Afirma que é discriminado no Congresso por ser um cidadão simples.
Também cita a "desesperança quanto ao futuro, por não vislumbrar uma maneira de cumprir os objetivos" a que se propôs.
Segundo o deputado estadual Antônio Costenaro Neto (PP-PR), ex-patrão e espécie de padrinho político de Pinga-Fogo, o ex-deputado seria capaz de vender o mandato ou usar a renúncia como forma de autopromoção. "O Pinga-Fogo é um sujeito que não dá ponto sem nó", afirmou. (Denise Madueño e Paulo Camargo)

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