São Paulo, quinta-feira, 7 de abril de 1994
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Venda a prazo é a menor desde 84

MÁRCIA DE CHIARA
DA REPORTAGEM LOCAL

As vendas a prazo bateram o fundo do poço no primeiro trimestre de 94. As consultas ao Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), termômetro de negócios no crediário, totalizaram 1,42 milhão em janeiro, fevereiro e março na cidade de São Paulo, 9,19% abaixo do mesmo período de 93.
Trata-se do menor número de consultas dos últimos dez anos no primeiro trimestre, segundo a Associação Comercial de São Paulo (ACSP). Já os negócios à vista caminharam em sentido oposto.
As consultas ao Telecheque somaram 2,19 milhões no primeiro trimestre de 94, o maior volume desde 87, quando o serviço foi criado. O aumento foi de 8,28% sobre o primeiro trimestre de 93.
Esse total inclui o cheque pré-datado. Apesar de ser uma forma de compra a prazo, o custo financeiro embutido no preço é menor comparado ao crediário. Daí essa modalidade ter a preferência do consumidor.
O recuo das vendas financiadas é confirmado pelo baixo volume de crédito ao consumidor. Segundo pesquisa da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento, de fevereiro até hoje, houve queda de 20%.
"A subida das taxas de juros acabou inibindo as compras a prazo", diz Oiram Corrêa, diretor da Divisão de Assuntos Econômicos da Federação do Comércio do Estados de São Paulo (FCESP).
Dados do mercado financeiro indicam que a taxa de juros média hoje, nos financiamentos com correção pré e pós-fixada, é uma das mais altas dos últimos cinco anos. Em março, a média para o crédito pré-fixado bateu a casa de 54% ao mês.
No pós-fixado, a taxa real, já descontada a inflação, foi de 5% a 7% ao mês em fevereiro e março. O Brasil tem a maior taxa de juros do mundo (veja o quadro ao lado).
Analistas do mercado financeiro atribuem essa alta às expectativas quanto ao plano econômico. O ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, deixou claro que pretende manter a política de juros elevados para domar a inflação.
Também a indefinição de regras quanto ao crédito ao consumidor tem alimentado a alta dos juros. Como as financeiras não podem captar dinheiro no mercado com títulos corrigidos pela URV, elas embutem uma gordura nas taxas.
Não é só a escalada dos juros que esfriou a procura pelo crédito. A inflação alta também desestimulou as compras a prazo. O motivo, segundo o economista Marcel Solimeo, da ACSP, é que, com a subida dos preços, os prazos para emprestar e captar dinheiro no mercado encolheram.
"Fica difícil projetar a inflação num horizonte mais longo quando ela é alta", diz. Resultado: os financiamentos com prazos que giravam em torno de 12 meses em 1980, se reduziram para no máximo três a partir de 1986.
Na análise de Solimeo, esse mecanismo inviabilizou o crédito para a população de renda baixa.
O perfil do faturamento das grandes lojas também mudou, segundo a ACSP. O crediário, que representava 70% das vendas em 86, hoje não passam de 20%.
Com a perspectiva de que a economia ganhe a rota da estabilidade, há quem aposte que as vendas a prazo recuperem o fôlego. Para Solimeo, quando a URV tiver contaminado toda a economia, antes mesmo da entrada do real, o crediário com correção pós-fixada e prazos longos, vai trazer de volta os consumidores de baixa renda.
Essa tendência ainda não é nítida porque só agora o consumidor está recebendo o primeiro salário em URV, argumenta. "O processo está começando com o recebimento do primeiro holerite em URV", diz o economista.

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