São Paulo, sexta-feira, 8 de abril de 1994
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Questão da moratória pode gerar nova crise

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

O Encontro Estadual do PT paulista, que será aberto hoje à noite em São Paulo, deve abrir uma nova frente de crise para a candidatura presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva.
O encontro, que elege os delegados do Estado para a Convenção Nacional que definirá o programa de governo a ser defendido por Lula na campanha, tende a aprovar uma emenda apoiando a moratória para a dívida externa.
Lula conseguiu aprovar na Executiva do PT um acordo que contemplava a moratória apenas como uma possibilidade a ser adotada. O princípio que prevalecia era o de priorizar a renegociação da dívida.
O Encontro Nacional do PT é soberano. Nenhuma instância partidária pode alterar suas decisões. A delegação de São Paulo é a maior da reunião, que começa nos dois últimos dias deste mês e termina em 1 de maio.
As alas mais à esquerda do petismo controlam cerca de 52% dos delegados da reunião paulista. Daí devem sair duas propostas: negação pura e simples da dívida ou decretação da moratória para depois negociar.
A segunda tese é a que deve ter mais apoio. Ela será apresentada pela corrente "Articulação de Esquerda" (ex-"Hora da Verdade") e deve ter os votos necessários para derrubar o acordo costurado por Lula.
O virtual candidato petista já se manifestou a favor da tentativa de renegociar politicamente o pagamento da dívida e contra a moratória como princípio absoluto.
Alianças
Outro ponto em que o PT de São Paulo deve colidir com Lula é sobre como sustentar politicamente seu governo. O grupo de Lula, o "Unidade na Luta", enfatiza a necessidade de alianças com outros partidos.
A ala mais radical do PT vai apresentar emenda que esvazia a prioridade de alianças partidárias. Prefere que, através do programa de governo, Lula tente conquistar a adesão dos "movimentos sociais".
Trata-se, neste ponto, da reedição de uma velha discussão da esquerda: fincar os pés no Parlamento, para garantir a "governabilidade", ou usar sindicatos e movimentos para pressionar deputados e senadores.
Lula não deve intervir no debate paulista. Se suas posições forem derrotadas em São Paulo, Lula centrará fogo no Encontro Nacional, que ocorrerá em Brasília.
As alas ortodoxas do PT sabem que terão que negociar com o candidato. O entendimento dependerá do tom que será empregado por Lula.

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