São Paulo, quarta-feira, de dezembro de
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Japonês da Aclimação e o mecenas

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LUÍS NASSIF

O japonês da Aclimação e o mecenas
O japonês da Aclimação vai ajudar a brava sociedade brasileira a purgar seus erros e permissividades. Desconfiou-se em sua escolinha, donos professores e pais de alunos praticavam abusos sexuais contyra pequenos alunos de quatro anos de idade. Um roteiro para Marquês de Sade nenhum botar defeito.
Não há nenhuma prova conclusiva para as acusações. Não há sequer laudos que comprovem definitivamente a prática de abusos sexuais. Um exame comprovou dilatamento de um por um ânus de uma das crianças. Pode ser vestígio de penetração, seguramente não porparte de um adulto. Pode ser fruto de uma assadura. Depois disso, há apenas informações arrancadas de crianás de quatro anos por pais desesperados.
Há o quadro já conhecido de policiais que se deslumbram com episódios que podem lhe render popularidade e de cobertura jornalística burocrática que vale exclusivamente da versão oficial.
Mas pode haver algo de maior impacto, para policiais e jornalistas, do que a suposição de crianças de quatro anos - que poderiam ser filhos dos próprios leitores - sendo utilizadas em sessões de filmes pornográficos?
Não há nenhuma foto, nenhum filme que comprove a versão, mas o que importa? Como tem-se 50% de possibilidade de o japonês da Aclimação ser culpado, está-se cometendo apenas 50% de injustiça.
E toca-se a linchar o japonês e os pais de outros alunos de quatro anos, valendo-se desta grande prerrogativa, que é sentir-se fortalecido na companhia da unanimidade, para melhor poder exercitar o supremo gozo de participar de um linchamento, sem riscos e sem remorsos - uma espécie de realidade virtual da Disneyworld com vidas alheias, em que se vive a sensaçào de perigo, sem correr riscos.
Pouco importa se o resultado final desta investigação vier eventualmente a comprovar a inocência dos acusados. Se errar, terá o álibi de estar errando em ampla companhia.
Lei e ética
O combate à corrupção não se faz em cima de leis, mas de princípios éticos desenvolvidos pela sociedade como um todo. O primeiro círculo a coibir práticas erradas é a família. O segundo círculo social. Se houver convivência com desvios, não há aparato legal que resolva.
Em São Paulo, um banqueiro foi acusado de integrar o esquema PC Farias junto a Fundos de pensão e ao sistema Telebras. Um grande empresário carioca, homem de vida pública conhecida e de boa reputação acusou-o frontalmente de ter exigido propinas para liberar uma licitação. Outro empresário, do setor de telecomunicações, acusou-o de tê-lo procurado em nome do próprio PC-Farias.
Nenhuma medida foi tomada pelo Ministério Público Federal para apurar os fatos. Fosse apenas um empresário paulista, o banqueiro provavelmente teria sua vida, investigada. Mas é também genro de um senador da República.
A brava elite paulista transformou-o em seu mecenas particular, sem se preocupar sequer em cobrar-les explicações cabais para as acusações. Ele é personagem ativo das colunas sociais, sua casa é frequentada por personalidades conhecidas da vida intelectual e empresarial, suas festas elogiadíssimas, assim como suas virtudes de enólogo. Tem dinheiro e é grande amante das artes. Um grande praça, sem dúvida.
Não se assuma a presunção da culpa. Pode ser que seja inocente. Pode ser que seja culpado. O fato é que em nenhum momento as suspeitas provocaram sequer o constrangimento, que é o sinal mais tênue de existência de princípios éticos regendo realções sociais.
Mas pouco importa. O poderoso japonês da Aclimação está aí mesmo, para mostrar que com a sociedade brasileira não se brinca.
Paranapanema
A presidência da Paranapanema reconhece a validade das críticas formuladas contra ela na coluna de anteontem - convocação de AGEs desrespeitando princípios da lei das sociedades anônimas. Mas informa que no mesmo momento em que a escrita, a correção era providenciada - tanto que correção e crítica foram publicadas no mesmo dia.

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