São Paulo, sexta-feira, 8 de abril de 1994
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'Outsiders' dos anos 90 se debatem em 'road movie' desesperador

HAMILTON ROSA JUNIOR
ESPECIAL PARA A FOLHA

Filme: Corpos em Movimento
Direção:Michael Steinberg
Elenco: Bridget Fonda, Tim Roth, Phoebe Cates e Eric Stolz
Estréia: Cinearte e Arouche B

Peter Fonda cruzou a estrada americana no fim dos anos 60 num filme sem destino e que demonstrava os primeiros sinais da falência do movimento hippie. Bridget Fonda, filha de Peter, ameaça pisar na mesma trilha em "Corpos em Movimento", um road-movie tão desesperador quanto "Sem Destino" (1969). Mas os outsiders dos anos 90 não saem do lugar.
O selvagem da motocicleta Peter faz uma ponta em "Corpos em Movimento". E o "hell angel" que se depara com Nick (personagem interpretado por Tim Roth) numa cabine telefônica de beira de estrada. Mas não há papo, o encontro se resume num esbarrão. São duas gerações de andarilhos que não se reconhecem.
Roger Hardy, autor da peça homônima em que o filme é inspirado, não esconde seu olhar inconformado sobre a impotência dos novos rebeldes. Em seu roteiro, o outsider cruzou os braços, se entorpeceu e agora não enxerga mais nem a estrada. Talvez por isso, a imagem de uma escada rolante seja repetida com tanta insistência neste drama instigante.
No círculo vicioso do cotidiano não há espaço para Nick (Roth). É um andarilho nato, que só podia se estabelecer com a namorada Carol (Phoebe Cates) numa terra como Endfield, geograficamente um São Nunca incrustado no deserto do Arizona. Mas o tédio é tal, que ele larga da garota para viver com a vizinha Beth (Bridget Fonda). Por pouco tempo. Após perder o emprego, Nick decide bagunçar o coreto dos comportados. Rouba uma TV, abandona a namorada e pega mais uma vez a estrada.
Os personagens do filme não se movimentam, se debatem, mas não conseguem sair do lugar. Nick anda em círculos. A abandonada Beth tenta fazer as malas e sair da cidade, mas se apaixona pelo solitário Sid (Eric Stoltz), o pintor que veio despejá-la da casa. Carol se entrega a uma confortável posição de balconista de um shopping.
Na América de "Corpos em Movimento" os marginais vegetam. E Michael Steinberg, o diretor, demonstra, de currículo na mão, o fascínio por este sintoma de letargia. "Waterdance", seu primeiro filme (inédito no Brasil), driblava a pieguice dos filmes-doença para seguir a via crucis de um adolescente paraplégico no melhor estilo drama social.
O sucesso foi tão grande lá fora que Eric Stoltz, que vivia o aleijado, esvaziou os bolsos para ajudar a produzir um projeto de Steinberg, um filme sobre impotentes, mas desta vez sem metáforas.
Numa produção independente, baixo astral e tão anti-hollywood, a presença de uma estrela como Bridget Fonda pode parecer alienígena. Mas trata-se de um esforço pessoal. A atriz é a namorada de Stoltz na vida real e não mede esforços para provar no filme que nunca precisou de padrinhos como seu pai Peter, e sua tia, Jane, e seu avô, Henry. Mesmo sem os spots e a maquiagem, Bridget é um talento indiscutível.

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