São Paulo, sexta-feira, 8 de abril de 1994
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Pappalardo reconcilia imagem e realidade

CARLOS UCHÔA FAGUNDES JR.
ESPECIAL PARA A FOLHA

Arnaldo Pappalardo é um dos magos da fotografia publicitária no Brasil e sabe aliar essa experiência às artes plásticas, fazendo com que seja impossível tracar os limites dos dois territórios. Mostrando toda a riqueza com que a fotografia pode alimentar o artista plástico, Pappalardo inaugurou ontem sua exposição na Galeria André Millan.
Esta é a quinta individual que faz em São Paulo e nela dá um passo definitivo, incidindo sobre a linguagem e a materialidade da fotografia. Para além da variedade técnica que os trabalhos revelam, a exposição se desenvolve na polaridade entre a fotografia como extrato visível (imagem) e a contrapartida real, sua materialidade no espaço.
Isto fica claro nos trabalhos em que longas tiras de papel fotográfico são suspensas numa haste metálica e pendem do teto, enrolando-se nas bordas. Essas dobras parecem abarcar o espaço inteiro da galeria. Sobre o papel está a imagem que retoma a própria luminosidade e transparência de que se faz o processo fotográfico.
Questionando a ortogonalidade, essas imagens se colocam tortas sobre o papel. Assim é criada uma cisão reveladora entre o papel-suporte e a imagem-película. O suporte-papel, que numa foto comum deve ser desconsiderado, aqui tem sua presença afirmada.
Em outro trabalho, o artista rearticula o procedimento fotográfico numa espécie de grande cromo formado por um acetato de quase cinco metros quadrados. Na verdade é a junção de 20 filmes menores, sobre os quais ele realizou uma ação direta, usando revelador e fixador para decalcar objetos e gestos, fazendo incidir depois a luz.
Devido à rapidez e simultaneidade das ações, exigidas pela técnica, a obra repensa, além dos elementos físicos, a própria temporalidade da arte e da fotografia. São flashes, memória de um instante f\ugaz com a luz.
Liberto de restritivas normas do "medium" e comandando operações linguísticas rigorosas, Pappalardo consegue ir muito além dos simples jogos narrativos evocados por toda uma geração de fotógrafos que têm ultimamente deliciado as artes plásticas com seus "objetos". Pappalardo se mantém fiel à superfície e nessa trilha faz bons achados, sem concessões à mera estranheza das imagens.

Exposição: Arnaldo Pappalardo
Onde: Galeria André Millan (r. Mourato Coelho, 94, Pinheiros, tel. 852-5722).
Quando: Abertura hoje, 21h. Até 23 de abril. De segunda a sexta, das 10h às 19h, sáb. das 11h às 14h.

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