São Paulo, sexta-feira, 8 de abril de 1994
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Liquidificador eleitoral

A prévia eleitoral, através da qual os filiados de um partido escolhem seus candidatos a cargos eletivos, é um mecanismo que pode fazer de uma agremiação política algo mais do que uma máquina de caçar votos e de distribuição de cargos.
Quase sempre reduzidos a aparelhos a serviço da ambição de caciques, nas prévias os partidos cumpririam uma de suas funções democráticas. Isto é, fazer com que a massa dos cidadãos politicamente mais empenhados tenham influência decisiva na escolha dos executores da política nacional. Essas votações preliminares também poderiam colocar em xeque possíveis conchavos escusos feitos por meia dúzia de lideranças.
Tais vantagens, no entanto, podem mostrar-se apenas teóricas. O modo como o maior partido brasileiro, o PMDB, decidiu-se pelas prévias alimenta tal hipótese.
A maneira como foi levantada a idéia da prévia, a delimitação do eleitorado que dela participaria e a discussão do modo como os delegados irão votar configuraram, até agora, uma sucessão de manobras casuísticas que, se não descaracteriza ou invalida o processo, o torna ao menos muito viciado.
Mais importante, demonstra o pouco apreço, por parte dos líderes deste partido, pelo valor em si das prévias, que neste caso têm servido apenas como instrumento dos pré-candidatos para fritar adversários, para não dizer inimigos. E ademais, por motivos eleitorais, melhor dizer eleitoreiros, a escolha do candidato à Presidência pode implodir o partido.
O episódio das prévias no PMDB é mais um sinal de fraqueza dos espandongados partidos do país. Parece que as eleições gerais deste ano vão reduzir definitivamente a frangalhos as claramente ilusórias unidades abrigadas nas siglas.
A salada eleitoral, já apontada por esta Folha, continua a ser misturada no prato algo indigesto das coligações. Agora, Brizola quer emendar seu PDT ao PPR de Maluf –colcha de retalhos de resto fora de moda, pois inspirada em modelo populista dos anos 50. Até outubro chegar, é possível que o liquidificador eleitoral reduza a trapos o que hoje pomposamente se chama de sistema partidário brasileiro.
Resta saber se acordos de ocasião continuarão a ser uma rotina da política brasileira ou se, ao contrário, em nome da transparência e dos interesses dos eleitores, as legendas políticas irão ganhar mais consistência a partir da posse dos eleitos, no ano que vem.

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