São Paulo, sexta-feira, 8 de abril de 1994
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Betinho é vítima

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Se tivesse de fazer uma lista dos dez brasileiros vivos mais dedicados à causa dos direitos humanos em nosso país, não hesitaria em colocar Herbert (Betinho) de Souza no topo. O fato de estar na lista dos bicheiros não tira um milímetro do respeito que ele merece por liderar a campanha da fome, um dos mais extraordinários movimentos de solidariedade da história do país.
É verdade que ele errou ao aceitar dinheiro dos bicheiros. Mas é uma mentira grosseira jogá-lo no mesmo saco dos delinquentes. Para começo de conversa, ele é um indivíduo sem patrimônio, o que indica notável exceção entre os aquinhoados da lista de Castor de Andrade.
Por trás de seu equívoco, não estava a tentativa de faturar com a contravenção. Não quis fazer caixa de campanha eleitoral nem embolsar o dinheiro para desfrute pessoal. Buscava uma alternativa para ajudar uma causa humanitária.
Seu erro foi provocado por excesso de solidariedade. Estivesse preocupado apenas com sua vida, não precisaria sair por aí procurarando salvar vítimas da Aids. É preciso não ter a menor capacidade de discernimento ou estar movido por interesses inconfessáveis para desconhecer o óbvio: a amazônica diferença entre Betinho e a imensa maioria dos contemplados com a ajuda dos bicheiros.
Em toda essa história, Betinho não é vilão. É vítima da sua vontade de ajudar os outros, desamparados pelo crônica incompetência do setor público.
PS: Fiz essa coluna porque, há alguns anos, tenho o prazer de travar contato pessoal com Betinho em encontros promovidos pelo Unicef. E nunca (repito, nunca) ouvi dele qualquer frase que não estivesse relacionada com a vontade de amparar os grupos mais vulneráveis –especialmente as crianças. Não consigo ver maior estrago da lista dos bicheiros caso, em todo esse escândalo, saia abalada a credibilidade de Betinho.

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