São Paulo, sábado, 9 de abril de 1994
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Escolas-beliche

CLAUDIO GOMES FONSECA

As Secretarias de Educação do Estado e do Município de São Paulo adotaram as mesmas medidas quanto à fixação do número máximo de 35 alunos para funcionamento de salas de aula.
Através de matérias publicadas nos jornais, a Secretaria Estadual de Educação afirma que a medida foi tomada em nome da racionalização e da reversão dos recursos para a melhoria do ensino e dos salários dos professores e funcionários.
Mas os recursos economizados são irrisórios se confrontados com a necessidade de investimentos em pessoal e na melhoria do ensino público. Além disso, questões que envolvem a educação não podem ser encaradas de forma mecânica, desprezando-se seus componentes sociais e finalidades.
Quem conhece o dia-a-dia das escolas públicas sabe que elas estão em precárias condições de funcionamento. Pequenas, mal iluminadas, úmidas e totalmente deterioradas pela ação do tempo ou de invasores, não estão apropriadas sequer para receber alunos. A permanência de crianças e adolescentes em salas superlotadas acaba por deprimi-las, afastando qualquer possibilidade de descoberta do prazer de estudar, tornando o ensino-aprendizagem uma verdadeira tortura.
Além dos problemas de infra-estrutura, esses governos desconsideram um outro fator.
Os alunos das escolas públicas são, em sua maioria, filhos de trabalhadores com baixo grau de escolaridade, que não possuem recursos didáticos e, às vezes, sequer espaço para o estudo em seus lares. Dependem única e exclusivamente da escola, precisam de maiores cuidados e acompanhamento mais individualizado do professor, na medida em que encontram maiores dificuldades.
Classes superlotadas transformam-se em depósitos de crianças, comprometendo qualquer ação pedagógica dos professores. Além do mais, não há qualquer propósito de racionalização que justifique o prejuízo causado à educação da criança.
Vincular a melhoria salarial dos professores a medidas que causem transtorno e queda na qualidade de ensino é mais uma desastrada iniciativa de colocar a população contra os professores. E isto não aceitamos.
Os educadores e a população não podem aceitar a convivência com um sistema educacional que, alegando racionalização de recursos, amontoa crianças, humilhando-as e retirando seu direito básico de aprender em condições dignas. Se isto acontecer, em prazo muito curto acabaremos convivendo naturalmente com a idéia de escola-beliche para nossos filhos.

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