São Paulo, sábado, 9 de abril de 1994
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'Fresh' é a grande surpresa do New Directors/New Films

FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

O mesmo festival de cinema que no ano passado lançou comercialmente "Orlando", exibido no final do ano passado no Brasil, promete pelo menos uma grande surpresa para este ano.
"Fresh", escrito e dirigido por Boaz Yakin, conta a complexa história de um garoto de 12 anos que leva uma vida de cão, em meio a pobreza e as drogas, mas que mantém sua perspectiva infantil na curiosidade ou desinteresse por determinadas coisas do mundo.
Foi o último filme exibido no Festival New Directors/New Films, que terminou esta semana em Nova York depois de apresentar cerca de 30 longas e curtas internacionais.
Drogas e biscoitos
Logo no início, Fresh (Sean Nelson) se desvia do caminho da escola para uma rápida visita a um casal de velhos. Enquanto Fresh entrega as drogas encomendadas, a senhora prepara um copo de leite com biscoitos. Fresh é capaz de sentar-se comendo doces com a mesma naturalidade enquanto alguém morre ao seu lado.
É quase impossível não comparar o filme com a realidade dos meninos de rua e favelados brasileiros, embora as coisas sejam muito piores no Brasil. Mas o filme tem, em algumas passagens, doses extremas de violência.
Fresh mora com a tia e divide o apartamento com onze primos. A irmã Nicole (N'Bushe Wright) é viciada e o pai (Samuel L. Jackson) um exímio jogador de xadrez, apesar da indigência em que vive. E é como em um tabuleiro de xadrez que o filme se desenvolve.
Fresh é o entregador do traficante Esteban (Giancarlo Esposito), homem importante na sua vida, assim como o pai. Esteban confia nele, sem perceber que Fresh vai criando aos poucos a sua própria independência no negócio.
Silenciosamente, Fresh arma um plano para sua fuga e da irmã, que se torna vítima de seu mundo. O filme revela a partir daí um panorama sensível de uma criança que precisa tomar medidas extremas e adultas para continuar sobrevivendo.
Stewart Copeland
O diretor Boaz Yakin teve a ajuda do cinegrafista Adam Holender (que trabalhou em "Midnight Cowboy") nas filmagens e emoldurou o filme com músicas de Stewart Copeland (ex-Police). O resultado é muito bom. Não há sons altos nem barulho, como se poderia esperar num filme violento e forte. As feições dos atores são fortes e há cenas belíssimas em alguns momentos.
"Fresh", da Miramax Films, deve entrar em circuito nos EUA nos próximos dias, assim como outros filmes que acabaram de ser exibidos no festival New Directors/New Films.
Alquimia
"Cronos", por exemplo, foi exibido nos dias 23 e 24 de março e já está nos cinemas esta semana. O filme, que já havia sido premiado em Cannes, é do diretor mexicano Guillermo Del Toro e narra a história de um alquimista que chega ao México em 1536 depois de descobrir uma poção que prolonga a vida.
Mais de 400 anos depois, metade da sua preciosa fórmula cai nas mãos de um industrial à beira da morte e a outra parte nas de um colecionador. O filme é um inventivo thriller vampiresco.
Brecht e Streisand
Entre os filmes mais divertidos do festival está "Zero Patience", um musical canadense sobre Aids onde um comissário de bordo (conhecido como Paciência Zero) seduz um fantasma de 170 anos, o explorador vitoriano Sir Richard Francis Burton.
O filme, do diretor John Greyson, tem influências das mais diversas, de Bertolt Brecht e Michel Foucault a Barbra Streisand, e destila a raiva, compaixão e amor que a Aids provoca entre a comunidade gay.

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