São Paulo, sábado, 9 de abril de 1994
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Hora da verdade

A renúncia do primeiro-ministro japonês, Morihiro Hosokawa, aumenta a lista de escândalos de corrupção na segunda potência econômica mundial e acrescenta ainda mais um elemento de incerteza para os mercados internacionais.
De um lado é inspirador verificar que no Japão as autoridades flagradas em atos suspeitos assumem publicamente seus erros e aceitam as consequências. Ou seja, a impunidade não é a regra. Ao mesmo tempo, entretanto, a lista de escândalos é já longa e atinge de modo profundo o núcleo de poder daquele país. Dada a importância da economia japonesa, essa instabilidade política doméstica dificulta o próprio ajuste econômico global. Hosokawa é o quarto entre os últimos cinco primeiro-ministros a renunciar devido a escândalos de corrupção.
Somente os ingênuos suporiam que essa corrupção é um fenômeno novo no Japão. Na realidade há mesmo quem considere tratar-se de problema estrutural, dada a importância histórica do Estado na promoção do desenvolvimento econômico e a predominância do mesmo partido no poder por décadas.
Mas a corrupção de burocratas e autoridades não é exclusividade dos japoneses. Em outros países, com maior ou menor desenvolvimento, testemunha-se também um autêntico terremoto institucional nos últimos anos. É o caso da Itália, onde se conseguiu colocar a nu a extensa promiscuidade entre políticos, burocratas, empresários e até a Máfia. E também do México, onde igualmente um único partido monopolizou o poder e no qual ressurge a violência política. Ou mesmo nos Estados Unidos, onde, por motivos diferentes e apesar da alternância dos partidos no poder, o presidente Clinton enfrenta acusações igualmente desabonadoras.
Corrupção e hipocrisia não são novidade na história das sociedades. A sugestiva sincronicidade com que espoucam escândalos em todo o planeta talvez seja sinal de que até a mentira também tem a sua hora da verdade.

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