São Paulo, domingo, 10 de abril de 1994
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Valor do dólar está no lugar certo

NILTON HORITA
DA REPORTAGEM LOCAL

Viver em Nova York não é tão mais caro que o dia-a-dia do cidadão paulistano. Gastos cotidianos como tomar um cafezinho são menores em São Paulo, na exata medida da diferença do poder de compra entre quem reside lá e o habitante daqui. Banal constatação na aparência, serve, porém, para mostrar que a relação de valor entre dólar e cruzeiro real está no lugar certo.
Este dado ganha mais importância para um país que vai conviver com uma nova moeda daqui a alguns meses, o real, que nasce tendo a proposta de se manter como alma gêmea do dólar.
Se o dólar estivesse valendo menos do que deve (a tal da defasagem cambial), como argumentam estudos das entidades que aglutinam os interesses dos exportadores, os preços comparáveis aqui e em Nova York apresentariam muito mais distorções.
"Se o valor do real for ligado ao do dólar como uma âncora sustenta um barco no mar, é preciso ver se ela está aprumada", afirma o economista Paulo Mallmann, diretor financeiro do Banco BMC. "Pelo que percebi, os valores estão no lugar certo. Se houvesse necessidade de uma valorização do dólar, o real já nasceria morto por causa deste atraso."
Mallmann passou 25 dias nos Estados Unidos. Esteve lá em férias, mas aproveitou para visitar corretoras americanas e atualizar conhecimentos em cursos de especialização.
Ao mesmo tempo, colheu notas fiscais do que consumiu e colecionou catálogos de preços. De volta, comparou os preços listados com similares nacionais e chegou a várias conclusões. "Coletei preços para aplicar a teoria da paridade do poder de compra, um pilar da teoria monetária que serve de modelo para comparar a relação entre duas moedas", explica Mallmann.
Separou dois grupos de preços. O primeiro, alimentos e vestuário, possui tributação parecida aqui e nos Estados Unidos, sem grandes diferenças tecnológicas. São setores comparáveis, portanto, para efeito de cálculo do poder de compra nos dois países.
O segundo inclui eletroeletrônicos e automóveis, atividades que possuem diferenças de tributação, capacidade tecnológica e escala de produção (o volume industrializado nos EUA é muito maior, o que permite preço menor).
Uma pizza média de mozarela na cadeia Pizza Hut custa US$ 10 em Nova York. Para o paulistano, sai por US$ 9,95. O café expresso em Nova York pode ser consumido por US$ 1,62, contra US$ 0,51 na capital paulista.
Já um telefone celular Motorola com capacidade de armazenar 100 memórias pode ser encontrado por US$ 199,98 nos EUA. No Brasil, o custo ao consumidor chega a US$ 659,00. Um CD novo, de lançamento, é comprado por US$ 13,83 em Nova York. O ouvinte das novidades do mercado fonográfico tem que pagar US$ 19,28 nas lojas especializadas paulistas.
"Nestes casos de eletrônicos e automóveis, os números revelam em que setores o governo poderá reduzir as alíquotas de importação para aumentar a oferta de produtos, caso o real traga junto o aumento do consumo interno", conclui Mallmann.
Há consenso entre os bancos de que não há atraso no valor do dólar em relação ao cruzeiro. "As exportações vão bem e se há preocupação dos exportadores, é muito mais em relação ao equilíbrio da paridade entre dólar e real", afirma Angelim Curiel, diretor de comércio exterior do Citibank.

LEIA MAIS
sobre cruzeiro e dólar na pág. 2-11

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