São Paulo, segunda-feira, 11 de abril de 1994
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A Fiesp não é mais aquela

LUÍS NASSIF

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo –a ex-poderosa Fiesp– não é mais aquela. Poderosa ela havia deixado de ser desde a abertura política. Nos últimos anos, bastava ter o apoio da "poderosa" para qualquer causa, independentemente de seu mérito, para virar saco de pancada.
O grande acordo da Câmara Setorial da Indústria Automobilística fêz-se ao largo da "poderosa". Enquanto sindicatos e setores mais avançados –que eram obrigados a renovar, pela disputa existente entre centrais– discutiam a inserção do Brasil no mundo, as únicas propostas objetivas que a Fiesp conseguia produzir eram pedido de linhas de desconto de duplicatas a taxas favorecidas.
Foi literalmente das cinzas que a Fiesp começou a ressurgir. Nas últimas eleições, ocorreu uma divisão ampla: uma das chapas venceria as eleições para a Fiesp e outra, de oposição, para o Centro das Indústrias (CIESP), seu braço operacional.
Para evitar o impasse, um grupo de poderosos sindicatos, já inoculados pelo vírus da modernização –e que recusavam-se a participar do jogo embolorado da entidade–, decidiu negociar seu apoio com ambas as chapas, em cima de uma plataforma modernizante, tanto em relação à estrutura operacional do órgão quanto aos grandes temas nacionais.
A proposta foi aceita pelo candidato da situação -Carlos Eduardo Moreira Ferreira-, garantindo sua vitória em ambas as entidades. Eleito, Ferreira cumpriu religiosamente a palavra empenhada, e começou a mudar a face da Fiesp. Os conchavos dos corredores, a defesa miúda de interesses setoriais, o sebastianismo, nada resistiu à exposição clara dos novos temas.
Reformas e cidadania
No âmbito nacional, o primeiro grande passo foi trocar descontos de duplicatas por propostas objetivas para os grandes problemas nacionais. Decidiu-se começar pela reforma fiscal.
Após longas análises das diversas propostas apresentadas, optou-se pelos estudos da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE) da Universidade de São Paulo.
Na decisão, estava clara a nova concepção da entidade. Optou-se por uma simplificação modernizadora, mas tendo em mente conceitos da melhor qualidade, como aprofundamento da descentralização e do federalismo, e formas de pagamento de tributo que ajudassem a consolidar o conceito de cidadania no contribuinte -saber quanto está pagando para exigir retribuição dos serviços.
O passo seguinte foi entrar em contato com outras entidades empresariais, visando montar uma estratégia conjunta para a revisão constitucional. Temas miúdos, defesas corporativistas, tudo foi exorcizado em nome de discurso muito mais consistente e efetivo: ou se discute um projeto nacional, ou soçobram todos -trabalhadores e empresários- na mais completa mediocridade. Trocou-se a prática horrorosa da mala preta, utilizada na última Constituinte por "consultores políticos" de araque, por idéias claras e propostas nacionais.
O trabalho resultou na montagem de um grupo, cuja coordenação foi entregue ao empresário gaúcho Jorge Gerdau Jonhanpeter, um dos empresários nacionais com melhor visão do país.
Sem cheque em branco
O último feito dessa renovação foi ter conseguido impedir o apoio automático da Fiesp à candidatura do ex-ministro FHC à Presidência da República -que entusiasmava remanescentes do velho estilo.
Pesou na decisão a falta de energia de FHC, enquanto ministro, para comandar as grandes reformas. A entidade não vai dar cheque em branco para FHC nem para qualquer outro candidato, sem garantias expressas de compromisso com a chamada ruptura modernizante e a consolidação da cidadania.
Bem-vinda ao exército, cada vez mais numeroso, dos que lutam pela cidadania e pela modernização.

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