São Paulo, quarta-feira, 13 de abril de 1994
Próximo Texto | Índice

Recife enfia antena parabólica na lama

A cidade vive "boom" de manifestações culturais

HÉLIO GOMES
ENVIADO ESPECIAL A RECIFE

Recife vive um momento especial. Até o momento, apenas o mangue beat de Chico Science & Nação Zumbi ganhou projeção nacional. Mas, ao que tudo indica, estamos diante apenas da ponta de um iceberg que ainda tem muito a revelar.
Somente no que se refere à cena musical da cidade, a diversidade de estilos e vozes é clara. Rap, funk, pop, punk rock e, é claro, mangue beat (leia texto ao lado) convivem de forma harmônica, como mostrou o festival Abril Pro Rock, realizado no último fim-de-semana.
O que os grupos que tocaram no Circo Maluco Beleza mostraram é apenas um reflexo do que acontece na cidade. Bandas das mais diversas linhas pipocam por Recife, agrupando jovens de diferentes classes sociais e cores.
"O que fazer para não afundar na depressão crônica que paralizam os cidadãos? Simples! Basta injetar energia na lama e estimular o que ainda resta de fertilidade nas veias do Recife", diz o manifesto do movimento mangue, publicado no encarte de "Da Lama ao Caos", disco de estréia de Chico Science & Nação Zumbi.
Essa energia contagiou outras áreas. Produtores de vídeo embarcaram no bote de Zero Quatro –líder do grupo Mundo Livre S/A– e Chico Science, e mergulharam no movimento mangue (leia texto nesta página).
O teatro de Recife rompeu as fronteiras de Pernambuco e chegou até o Rio de Janeiro, mais precisamente ao Teatro Ipanema.
Lá, um grupo de atores pernambucanos liderado pelo diretor João Falcão encena até o dia 8 de maio a comédia "Mamãe Não Pode Saber", escrita pelo próprio Falcão.
Recife se viabilizou como centro cultural dentro do precário contexto do Nordeste brasileiro. O problema é que o Brasil ainda não vê a cidade com os românticos olhos dos mangueboys.
Sua metáfora –a antena parabólica enfiada na lama– traduz de forma perfeita a vida entre o podre e o genial, a vida em Recife.

Próximo Texto: Músicos do alto Zé do Pinho traduzem a realidade da cidade
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.