São Paulo, quarta-feira, 13 de abril de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Partidos, o que é isso?

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – De alguma forma, a pesquisa do Datafolha que se publica hoje dá um certo contorno científico a uma sensação empírica, pelo menos minha, de que a eleição presidencial vai ser uma contenda entre personalidades.
Suspeito até que essa constatação é óbvia, mas em sinto obrigado a externá-la porque, no mundo político, há muita conversa fiada em torno da importância de alianças entre partidos.
Vamos aos fatos constatados pela pesquisa: com exceção de Luiz Inácio Lula da Silva e Orestes Quércia, identificados por uma maioria de seus próprios eleitores potenciais como pertencentes, respectivamente, ao PT e ao PMDB, no caso dos demais presidenciáveis a identificação é minoritária.
Pegue-se, por exemplo, Fernando Henrique Cardoso (PSDB), segundo colocado com alguma folga na mais recente pesquisa do Datafolha: dos seus potenciais eleitores, apenas 39% o localizam no PSDB.
A maioria relativa (43%) nem faz idéia de que a partido pertence o senador. Doze por cento ainda o colocam no PMDB e há até 2% que o jogam para o PPR.
Mais eloquente ainda é o fato de que 77% dos eleitores de Antônio Carlos Magalhães (PFL) ignoram solenemente a que partido pertence, porcentagem que cai apenas um pouco (para 71%) no caso de Leonel Brizola (PDT).
O fato de a pesquisa ter sido feita só em São Paulo (capital) ajuda a entender esse desconhecimento sobre os partidos de políticos não-paulistas. Mas o desconhecimento é maciço demais para ser aceitável.
Ora, se a maioria dos eleitores pouco liga para os partidos, parece lógico concluir que também conta pouco o fato de o partido "x" se aliar ou não ao "y". Essa hipótese de trabalho fica reforçada quando se verifica que, entre os eleitores de FHC, há uma maioria relativa (19%) que acha que a aliança deve ser com o PT, mas há outra maioria relativa (29%) que pensa justamente o contrário, ou seja, que veta liminarmente o acordo PSDB/PT.
Resumo da ópera: alianças tendem a servir só para ganhar tempo adicional na TV. O resto será feito mais pelo carisma (ou falta dele) dos candidatos.

Texto Anterior: Rancor tacanho?
Próximo Texto: DESSACRALIZAÇÃO; A CARA DO CANDIDATO; ALIANÇA COM PSDB; ROMÁRIO É ASSIM
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.