São Paulo, quinta-feira, 14 de abril de 1994
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Chega de hipocrisia

ANTENOR CHICARINO

Infelizmente, muitas vezes os espaços da imprensa são ocupados por pessoas que não medem as consequências das injúrias e calúnias lançadas sobre pessoas e instituições que merecem o respeito de toda a sociedade pelo imprescindível trabalho que realizam em prol dos marginalizados pelas políticas de Estado.
Lamentavelmente, este é o caso do artigo publicado nesta coluna na última sexta-feira, sob o título "As denúncias de Lancelotti", que traz a assinatura do também deputado Afanásio Jazadji.
Explorando o fato de ser membro da Comissão de Segurança Pública da Assembléia Legislativa –o que só aumentaria sua responsabilidade caso fosse assíduo às reuniões, o que não corre–, ele se outorga o direito de enxovalhar a dignidade do padre Julio Lancelotti, atingindo também pessoas e instituição que defendem nossas crianças.
Para proceder como o citado parlamentar é preciso mais que coragem. É preciso uma grande dose de mediocridade e hipocrisia ou de ignorância e irresponsabilidade. Explico: o deputado além de ausente às reuniões da comissão também desconhece o fato de que os nomes e dados requisitados no artigo, que inclusive motivaram-no a apresentar um requerimento ao Ministério Público, estão ao seu alcance aqui na Assembléia.
Se o ilustre parlamentar estivesse preocupado com grave problema das crianças carentes e violentadas, deveria saber que foi instalada em 27 de junho de 1991, aqui na Assembléia, uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) que durante mais de dois anos coletou dados acerca das situações negadas no artigo.
Como participante desta comissão, sou testemunha dos depoimentos do padre Julio, apontando não apenas os responsáveis como também os dias, locais e circunstâncias onde a violência foram cometida. E eles constam do relatório de conclusão da CEI.
Não há dúvidas quanto à presteza do padre Julio no cumprimento de sua obrigação. Mas há que se perguntar aqui por que as autoridades que deveriam apurar as denúncias mantiveram-se inertes até agora, deixando que toda a polícia civil e militar fique sob injusta suspeição –motivada, isto sim, pela falta de apuração e diligência.
A situação de nossas crianças torna-se ainda mais desalentadora quando autoridades que deveriam protegê-las limitam-se a achincalhar a dignidade alheia e em lugar de exigir apuração, incitam à violência e agem como sepulcros caiados batendo no peito –como se isso os inocentassem. Chega de hipocrisia.

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