São Paulo, quinta-feira, 14 de abril de 1994
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Coronelato e modernização

LUÍS NASSIF

Há movimentos profundos em torno das próximas eleições presidenciais, que deverão provocar alterações significativas no quadro político nos próximos meses.
O PT tem um eficiente discurso popular, mas provoca desconfianças nos segmentos comprometidos com a bandeira das reformas modernizantes. Agora, prepara-se para conquistar terreno nessa área, aproveitando-se da falta de compromissos com o tema, manifestado até agora por seu principal adversário –o ex-ministro FHC.
Depois de quase colocarem a pique a candidatura de Lula, com sua falta de visão nacional, os radicais do partido sofreram derrotas expressivas em todo o país, nas eleições do último domingo. Foram derrotados em dois dos seus principais redutos –São Paulo e Rio de Janeiro.
Grupos mais modernos, ligados a Lula, conseguiram derrubar o mito da moratória da dívida externa –que, inacreditavelmente, ainda servia de munição para os xiitas.
O fato de derrubar a tese da moratória ser considerado notável feito político, dá uma pálida idéia do desafio que se tem pela frente, para dobrar a multidão de evangélicos que se rende a esse populismo de esquerda, manejado pelos xiitas do partido.
Mesmo assim, há indícios de que gradativamente os modernos tentarão expurgar o partido de outros dogmas ligados à questão externa, além de tentar flexibilizar relativamente posições atuais contra a privatização, recuperando princípios que foram consolidados na carta programa do partido, de fins de 1992 –que foi a primeira tentativa efetiva de alinhavar um programa de esquerda moderna no país.
Simultaneamente à vitória nas últimas prévia, deve-se consolidar o papel dos intelectuais modernizantes como porta-vozes das posições do partido.
Até então, a ala mais xiita vinha recorrendo ao processo de vazar trabalhos próprios para a imprensa, apresentando-os como se fôssem o futuro programa oficial do PT, criando uma barafunda notável.
Enquanto isto, toda a energia de FHC tem sido canalizada para reconstituir o pacto da Aliança Democrática. Nas próximas semanas, ou trata de pensar grande e parar de comportar-se como um coronel nordestino ou, com todas as ressalvas que se possa fazer ao PT, acabará deixando em suas mãos, além das teses populares, também as teses modernizantes.
O jogo do oligopólio
Muda o ministro da Justiça, mas o combate ao abuso de poder econômico continua preso à mesma cantilena demagógica e simplista de medidas sensacionalistas –cujo único objetivo é render projeção e poder para seus autores, não resultados objetivos para a economia.
Há um processo permanente de fusões e de aquisições de empresas em setores pouco concorrenciais, algo muito mais fatal à concorrência que movimentos especulativos tópicos.
Nenhum desses pais da pátria toma uma atitude sequer contra estas operações, nem se preocupa em definir princípios jurídicos impessoais que permitam à justiça se manifestar sobre a questão –porque não rende dividendos políticos, nem poder.
Mas todos eles se enchem de furor cívico quando se trata de recorrer ao velho manual do burocrata público, no capítulo referente a "como conquistar espaço e poder": criar uma nova estrutura burocrática que permita empregar gente e preservar para si o poder de arbítrio de definir escolhendo o especulador a ser "exemplado".
Constituinte exclusiva
Basta apenas o dobre de finados da revisão constitucional, para a bandeira da Constituinte exclusiva ganhar aliados de peso. Na próxima semana, duas entidades relevantes –o Acorde, que congrega cerca de trinta entidades empresariais nacionais, e o PNBE– deverão engrossar a lista dos partidários da Constituinte exclusiva.
O tema tem o apoio de entidades e parlamentares de esquerda e interessa diretamente a todo candidato à Presidência, para poder receber um país governável.

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