São Paulo, quinta-feira, 14 de abril de 1994
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Passando os dias em um grande clube

MATINAS SUZUKI JR.
ENVIADO ESPECIAL A BARCELONA

Meus amigos, meus inimigos, passar alguns dias dentro do Camp Nou, vendo como funciona o Futebol Clube Barcelona, é uma experiência incrível.
Em primeiro lugar, porque em nenhum outro grande time do mundo, a experiência de torcer por um clube de futebol é também um ato tão substancialmente político.
(Aliás, tudo lá é político, como mostra "Barcelona", o livro de Robert Hughes. "É verdadeiro que todas as cidades são formadas por políticos", diz ele. Mas, sobretudo, é verdade em grau espetacular e insistente em Barcelona, completa.)
O Barça não é um clube comum, como se diz por lá, é uma espécie de seleção nacional permanente da Catalunha.
Ele é o lado mais visível e mais barulhento do nacionalismo (tema do momento, na política internacional) daquela região –integrada à Espanha no lado político, mas radicalmente autônoma do ponto-de-vista subjetivo e sentimental.
Durante os anos franquistas, com a supressão de várias manifestações culturais catalãs –inclusive o ensino da língua– o time de Barcelona passou a ser a única válvula de escape para a expressão da identidade regional.
Você pode imaginar, por exemplo, o peso –também histórico– que alcançava uma vitória sobre o Real Madrid –considerado como o clube oficial do regime franquista.
(Diz a lenda que o Barça foi obrigado pelo regime a vender o grande Di Stefano e passou a ter que dividir Kubala, a "seta loura", com o Real Madrid –em caso único de craque que jogava para dois clubes rivais ao mesmo tempo.)
O Barcelona também é um raro caso de grande time de futebol profissional que não aceita patrocínio de empresas (é o outro extremo –e igualmente bem sucedido– do caso da Parmalat).
O torcedor paga para manter a camisa do time imaculada (embora as más línguas digam que quem financia o clube é o Banco da Catalunha e que o Barça tornou-se o time oficial do regime felipista).
O Barça tem 108 mil sócios que ajudam a pagar os salários de um elenco que tem o capitão da Holanda Ronald Koeman, o melhor jogador da Dinamarca, Michael Laudrup, a grande esperança búlgara Hristo Stoitchkov e Romário.
Para se ter uma idéia da grandeza do elenco do Barcelona, o atacante titular da seleção espanhola, Julio Salinas, só foi chamado por três vezes durante esta temporada para se concentrar para partidas oficiais do clube.
O segundo motivo pelo qual é muito estimulante uma visita ao Super-Barça é a sua magnificência atual. Para se ter uma idéia, na segunda e na terça-feira passadas, dias de treinamento, estavam no clube:
1) Uma equipe de televisão americana para entrevistar jogadores para a Copa;
2) O ex-técnico da argentina Carlos Bilardo, que comentará a Copa para a televisão de seu país;
3) Dois técnicos da primeira divisão búlgara, observando os métodos de treinamento e de trabalho com as equipes base do Barça;
4) Um grupos de treinadores das divisões bases dos times de Israel, também para observar o trabalho do Barça com as divisões inferiores;
5) O presidente do Comitê Olímpico Internaciona (COI), Juan Antonio Samaranch. Sabe para que? Para dar uma aula para os jogadores residentes no clube. É brincadeira?
Além disso, você sabia que o Museu do Barça, no Camp Nou, é o segundo mais visitado da bela cidade, só perdendo para o delicioso Museu Picasso?

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