São Paulo, quinta-feira, 14 de abril de 1994
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Kurt Cobain teve 'pai adotivo' em Aberdeen

GABRIEL BASTOS JUNIOR
DA REPORTAGEM LOCAL

Em 1985, quando tinha 18 anos, Kurt Cobain (guitarrista e vocalista da banda Nirvana que se suicidou semana passada) saiu de casa. Kurt passou um ano com a família de Gene Shillinger, pai de um amigo.
Em entrevista exclusiva à Folha, Shillinger (que ainda mora na cidade natal de Kurt, Aberdeen, Washington) falou da dor de perder "um membro da família".
Folha - Como foi a época em que Kurt Cobain morou em sua casa? Vocês se davam bem?
Gene Shillinger - Sim. Ele lavava pratos, limpava a cozinha, cortava a grama, tinha tarefas como todo mundo. Ele se adaptou ao esquema da casa perfeitamente.
Folha - Ele já tinha uma banda nesta época?
Shillinger - Ele não tinha uma banda fixa, mas tocava com alguns de meu filhos (são cinco ao todo) e outros garotos da vizinhança. Eles tocavam bastante na garagem de casa.
Folha - Como ele era na juventude?
Shillinger - Tímido, muito quieto e introspectivo. Não era uma pessoa extrovertida, amigável. Ele tinha alguns amigos mas não era o tipo de garoto popular, definitivamente.
Ele fazia muitos trabalhos de arte, desenhava muito e escrevia bastante também.
Folha - Ele tinha algum problema com drogas na época?
Shillinger - Não que nós soubéssemos.
Folha - Como vocês estão encarando a situação?
Shillinger – Na verdade, não muito bem. Estamos todos muito tristes ainda. Meus filhos não querem falar com ninguém a respeito.
Está sendo duro para mim e para minha esposa superarmos isto. Ele foi parte de nossa família por um ano inteiro e tudo está sendo muito difícil.
Folha - Vocês ainda mantinham contato com ele?
Shillinger - Não muito. Ele quase não vinha mais a Aberdeen. De vez em quando ele entrava em contato com os garotos.
Folha - Vocês de alguma forma esperavam que isto tudo acontecesse?
Shillinger - Não o suicídio. Nós esperávamos que ele tivesse sucesso como músico. Ele tinha habilidadade e talento, como outros garotos. Mas não imáginamos que fosse se tornar tão popular.
Folha - O que você acha de seu suicídio? Acha que foi um modo dele atingir quem estava à sua volta?
Shillinger - Não acho que ele tenha tentado fazer isto. Eu só queria que ele tivesse conseguido ajuda. Acho que ele tinha muitas razões para viver.

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