São Paulo, sexta-feira, 15 de abril de 1994
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Personagem

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Raquel Cândido engordou. "Não é mais a mesma", descreveu ontem, com ironia, uma correspondente de televisão. Mas não só na aparência. A deputada federal, que foi condenada pela comissão de Justiça, lembrava em tudo um personagem de tragédia. Por enquanto, é a única, no grande escândalo do Orçamento, que parece ter sido realmente tocada.
"Ela tentou o suicídio duas vezes", lembrou logo o Jornal da Record. Raquel Cândido nunca se deu muito bem com a vida pública. Antes, diante das câmeras, levou um soco de um deputado. Então, ainda tinha os cabelos longos e usava um vestido que indicava sua vaidade. Ontem, novamente exposta à televisão, não sobrava nada disso. Ela era outra.
Um diálogo mostrado pelo TJ, entre Raquel Cândido e um jornalista, foi exemplar. Foi tragicamente ridículo.
"A senhora pensa em se matar por causa da perda do mandato?" foi a pergunta, já das mais irreais, estranhas.
A resposta da deputada, sempre entre rindo e chorando, mostrou-se à altura: "Não, por causa da minha honra."
Na Bandeirantes, ela ainda acrescentaria que o suicídio não é assunto resolvido, que ainda está entregue a "técnicos", ou seja, psicólogos. Na Record, a pressão sobre o suicídio continuou e ela acabou afirmando, com um sorriso algo enlouquecido que explica como foi parar, em seguida, na enfermaria do Congresso Nacional: "É só vocês esperarem para ver."
Cusparada
Jair Bolsonaro, o deputado aventureiro que defende o fim da democracia, apareceu ontem na televisão rasgando e dando uma cusparada num documento legal. A imagem, que foi apresentada no Jornal Bandeirantes e cortada do Jornal Nacional, é das mais grosseiras entre as muitas produzidas pelo atual Congresso. Seus companheiros de partido e de plenário, outra vez, aceitam o ato por respeito à liberdade de cusparada.
Guerra ao Castor
Mais uma vez, a Globo usou quase todo o Jornal Nacional com "a guerra ao jogo do bicho", como continua tratando o escândalo Castor de Andrade. Para quem não lembra, o mesmo Castor de Andrade, no Carnaval do ano passado, ganhou da mesma Globo um tempo interminável para responder à perseguição que, disse à época, sofria da Justiça. É que o bicheiro foi mudar de amigos.

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