São Paulo, sexta-feira, 15 de abril de 1994
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Estudante acusa polícia de agressão

PRISCILA SÉRVULO

Universitário teria apanhado porque polícia teria confundido crise de hipoglicemia com bebedeira

O estudante do 2º ano de engenharia na escola Politécnica da USP, Daniel Varajão Teixeira Soares, 19, afirma ter sido espancado por policiais na madrugada do último sábado.
Os policiais pensaram que ele estivesse drogado ou alcoolizado porque agia de forma desconexa e teria tentado entrar em uma boate sem pagar.
Daniel diz que sofreu a agressão durante uma crise de hipoglicemia –falta de açúcar no sangue que leva a um mau funcionamento do cérebro. Diabéticos, como ele, estão sujeitos a esse tipo de crise.
Em entrevista à Folha, Daniel mostrou o que, segundo ele, era o resultado do espancamento: escoriações no pescoço, hematomas na barriga e inchaço no rosto.
O pai do rapaz, Carlos Ernesto Soares, apresentou à reportagem da Folha um atestado médico, assinado por Julio Abucham, professor adjunto da Escola Paulista de Medicina, dizendo que Daniel é diabético. Carlos Ernesto disse não ter intenção de entrar com ação contra o Estado.
A crise começou por volta de 0h30. O estudante estava na boate Anônimos, no Brooklin, quando, segundo amigos, quis entrar sem pagar, alegando que o local era a loja da sua mãe. Daniel diz que não lembra do que aconteceu.
Antes de ir à boate, Daniel havia participado da inauguração de uma loja de sua mãe, onde, segundo ele, tomou duas taças de vinho.
A polícia esteve levou Daniel para o Hospital São Paulo e depois para o 27º Distrito Policial, no Campo Belo (zona sul de SP).
O estudante foi autuado em flagrante por agressão (acusado de agredir um médico no hospital), desacato a autoridade (acusado de xingar policiais) e destruição do patrimônio público (acusado de ter quebrado, ao tropeçar e cair, a grade de plástico que fica na frente do carro da polícia).
O médico José Roberto Ferraro, coordenador-geral do PS do Hospital São Paulo, disse que Daniel Soares chegou ao local alcoolizado. Ferraro afirmou que segundo informações do médico que o atendeu, Eduardo Cantoni, o rapaz "não estava com nenhum problema relacionado ao diabetes".
A delegada titular do 27º DP, Elaine Maria Biazolla, disse que o delegado não tem como saber se Daniel apanhou. "Quando os policiais chegaram ao local, ele se entregou, mas no carro queria resistir à prisão, se debatendo."

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