São Paulo, sábado, 16 de abril de 1994
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Que dia é hoje?

FLAVIO GOMES

Corrida no Japão é um negócio muito complicado. Imagine você como estou me sentindo escrevendo hoje, às duas da madrugada de sábado, um texto que vai sair também no sábado no Brasil. A essa altura, enquanto você toma café e mastiga sua bolacha com requeijão, a pole position para a corrida de amanhã, aliás, hoje, esta noite, qualquer coisa assim, já está definida.
Você, aí, já sabe. Eu, neste exato instante, ainda não.
Não sei se escrevo para o jornal de ontem, de hoje ou de amanhã. As 12 horas de fuso horário não existem senão para enlouquecer jornalistas. Fico com a sensação de que o leitor aproveita essas corridas para se vingar de quem escreve. Você sabe tudo antes que o jornal.
Tamanha confusão não se reflete apenas no relógio. Os cronômetros de Aida também
enlouqueceram. Como explicar a sapatada de Schumacher em Senna ontem (ou seria
anteontem? Ou hoje?) e o revide imediato hoje? (Ou foi ontem? Coloquemos assim: quinta e sexta-feira, no meu calendário)
E teve mais. No primeiro treino livre, um dia desses, o Erik Comas ficou em terceiro. E o Rubinho, 14º na quinta, pulou para 8º na sexta. E o Christian despencou de 6º para 15º. É um caos.
Essa bagunça até que me agrada. A corrida de hoj..., digo, a corrida vai ser legal. Ninguém faz a menor idéia do que pode acontecer. O Senna dizia que o negócio era empurrar com a barriga porque o carro não andava, e algumas horas depois cravou o alemão. Ficou todo contente e é bem capaz de ter levado uma entubada no segundo treino só para contrariar a turma do "eu não disse?", que cantou sua vitória há seis meses –na qual me incluo e, até segunda ordem, permaneço firme como uma gelatina Royal.
Ontem (hoje?) até o Schumacher entrou na dança. Deu pra falar que o Senna é favorito mesmo, deve ser campeão. Alemão safado. Imagina se eu embarco na vitória de Interlagos e mudo minha opinião. Era só recorrer ao meu arquivo e desenterrar alguma frase perdida de outubro pra cá, qualquer coisa como "pode haver alguma surpresa", para justificar a repentina troca de direção.
Não embarquei. Procurei, confesso. Mas acho que não escrevi nada parecido. Ou então meu arquivo está precisando de uma reforma. Não encontrei a pasta "Chutes para cercar prognósticos que não deram certo". Sumiu.

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