São Paulo, domingo, 17 de abril de 1994
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Livro de traficante cita bicheiros

MÁRIO SIMAS FILHO

Livro de traficante cita bicheirosDocumento foi encontrado pela PF durante a Operação Mosaico e desapareceu logo depois

Um livro com registros sobre remessas de dinheiro de bicheiros para traficantes e vice-versa foi encontrado pela Polícia Federal do Rio em 1988 durante a chamada "Operação Mosaico". O documento simplesmente desapareceu.
A "Operação Mosaico" foi desencadeada pela Polícia Federal com o objetivo de reprimir o tráfico de drogas no Rio.
Na operação, o traficante Toninho Turco foi morto. Ele era um pequeno bicheiro que, segundo a PF, controlava 60% do tráfico na cidade do Rio de Janeiro.
Os documentos foram encontrados na fortaleza de Toninho Turco. O problema é que a lista desapareceu do processo criado após a ação policial.
"Ninguém sabe onde esse documento foi parar", disse o promotor Raphael Cesário.
Na época, o chefe da PF era o delegado Romeu Tuma. Ele confirma que vários documentos em poder de Toninho Turco foram apreendidos, mas afirma que todos eles foram encaminhados à Justiça. "Não me recordo o conteúdo dos documentos, mas havia uma contabilidade", disse.
Pelo menos 20 histórias como essa estão relacionadas em um outro documento chamado "Geopolítica do Crime".
O documento foi elaborado por promotores do Rio e mostra os mistérios como diversas investigações para apurar a suposta relação entre bicheiros e o tráfico internacional de drogas acabaram arquivadas.
O "Geopolítica do Crime" também relaciona investigações que envolvem os bicheiros com uma relação de 48 homicídios.
"Tudo o que se pede para a polícia investigar não é feito e quando temos documentos eles somem do processo", disse Cesário.
O procurador-geral de Justiça, Antônio Carlos Biscaia, que comanda as recentes investidas contra os bicheiros fluminenses está com o documento em seu poder.
"Ele pode relacionar os nomes de pessoas que trabalharam nos casos mencionados no documento com os nomes encontrados nas listas de Castor de Andrade e chegar a muitas conclusões", afirmou o promotor.
Entre os casos relacionados no "Geopolítica do Crime" está o do desaparecimento de um processo inteiro.
Neste documento, o banqueiro do bicho Carlinhos Maracanã era acusado de homicídio e, segundo Cesário, o processo tinha provas testemunhais que permitiriam a sua condenação.
Todo o processo simplesmente desapareceu do fórum. "Na reconstituição do processo foi impossível reproduzir as provas testemunhais", disse Cesário.
A história ocorreu em 1975 e nada ficou provado contra Carlinhos Maracanã.
De acordo com o promotor, o processo teria sido queimado durante uma reunião de bicheiros.

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