São Paulo, domingo, 17 de abril de 1994 |
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Ação dos atores desafia língua portuguesa
MÔNICA RODRIGUES COSTA Erramos: 22/04/94Diferentemente do que foi publicado, o nome da atriz que faz o papel de Julieta Chimbiron, na peça "Chimbirins & Chimbirons", é Patricia Dineli, e não Meg Serra, cujo papel é o da mãe de Julieta. Ação dos atores desafia língua portuguesa "Chimbirins & Chimbirons" é um musical sem falas inteligíveis que desafiam a imaginação do espectador Dois agrupamentos humanos vivem felizes em uma região do planeta em um tempo remoto. Descobrem que podem competir. Passam a disputar o espaço e se transformam em inimigos. O conflito aumenta quando dois jovens de grupos diferentes se apaixonam. Imagine essa ação transmitida por personagens que não falam palavra alguma inteligível, em qualquer língua, durante 50 minutos. O espectador é capaz de entender toda a comunicação dramatizada nas cenas de "Chimbirins & Chimbirons". E isso é mérito dos 16 atores do grupo Zambelê (de "Sexo, Chocolate e Zambelê"), que atua no espetáculo. O musical tem a autoria de Marcos Arthur e é dirigido com acuidade por Vladimir Capella (de "O Saci" e "Panos e Lendas"), que assina também a supervisão de texto. Arthur fez ainda a trilha sonora e a direção musical. Ocorre no palco, num trabalho de mestria em interpretação, uma espécie de embate entre o real e a possibilidade de representá-lo por meio da linguagem verbal. Os atores usam o corpo para desafiar a língua portuguesa. O chefe dos Chimbirins (Maurício Xavier) se apoia no cajado e em uma gesticulação facial marcante nos diálogos com o chefe dos Chimbirons (Fernando Peterlinkar), que distingue sua liderança com uma voz forte e gestos imponentes. Julieta Chimbiron (Meg Serra) se movimenta com uma dança suave para expressar o que diz. Ela e Romeu (Tico d'Godoy) exploram o olhar nas cenas de amor. Além da capacidade de falar com o corpo, o grupo representa com precisão a gramática da língua no seu fraseado "nonsense" de rimas e ritmos, cantado à capela –vozes sem instrumentos. É poesia pura. Até que nasce a "língua do pê", que avó (Lizette Negreiros) e neta (Eleonora Prado) praticam para comentar sobre o passado de seu povo. O diálogo esboça inteligibilidade e, assim, se aproxima da compreensão sobre o comportamento dos ancestrais. A surpresa do final do espetáculo é trazer os atores vestidos de jeans e camisetas, entoando uma canção-comentário sobre os fatos narrados na peça. Os atores ficam muito diferentes sem as roupas criadas por J. C. Serroni (cenógrafo de "Vereda da Salvação"). O figurino parece uma pintura abstrata, sem forma definida, sobre a qual incide a iluminação (Davi de Brito), que vai alterando as cores, sugerindo novas perspectivas à imaginação. Como a língua, o figurino é uma alusão a várias épocas, propõe um esforço de percepção contra o estilo padronizado do vestuário codificado, de um tempo específico. Embora Chimbirins e Chimbirons briguem, a beleza com que foram caracterizados, tanto do figurino quanto do cenário, significa uma espécie de bondade a favor da humanidade, ainda que haja contradições em sua história. Ainda que essa mensagem positiva esteja carregada de nostalgia, já que o povo dividido errou ao impedir o amor de Julieta e Romeu, motivo que mais se destaca na guerra entre os grupos. Peça: Chimbirins & Chimbirons Direção: Vladimir Capella Elenco: Aldo Avilez, Cleide Queiroz, Lizette Negreiros, Ronaldo Vianna e outros (Núcleo Zambelê) Onde: Teatro Ruth Escobar, sala Dina Sfat (r. dos Ingleses, 209, tel. 251-4881) Quando: Sábados e domingos, às 16h Quanto: CR$ 2.200 Índice |
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