São Paulo, terça-feira, 19 de abril de 1994
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Coletiva traz novidades em três dimensões

CARLOS E. UCHÔA FAGUNDES JR.

Uma importante coletiva de esculturas será inaugurada hoje no Espaço Namour, dando continuidade ao projeto de exposições implantado no ano passado. Como nas anteriores, esta terceira mostra mistura produções de artistas de várias tendências e gerações, criando contrapontos inusuais, ao quebrar certas regras tácitas da apresentação das obras no circuito de arte.
Esta é uma característica importante que emerge da curadoria de Luciana Brito e Denise Fahham possibilitada pela própria independência do Espaço. Criado pela iniciativa privada e sem vínculos institucionais com o circuito, ele serve como rico território de experiências, em alternativa à dupla galeria-museu. Por iniciativas autônomas como esta, cria-se uma mobilidade do olhar e uma liberdade de nexos que pode dar conta de relações impressentidas entre produções contemporâneas.
Garantido um critério de qualidade, e com muita pertinência, põem-se lado a lado trabalhos de uma novíssima revelação como Cristina Rogozinky e o consagrado Tunga. Aproximam-se opostos como o enxuto Arthur Lescher e a desconcertante Lia Menna Barreto. Nina Moraes, e suas "Paisagens" em conserva, convive com Ester Grinspum, e seus "Vasos Fechados", que retomam a forma em contenção, mas também a expansão ilimitada do espaço interno ao vaso de cerâmica – lembremos do oleiro que molda o vazio, plasmando seu vaso em torno dele.
Nesses contrastes, percebem-se tanto mais riquezas individuais, fruto de poéticas igualmente sérias, mergulhos rigorosos em buscas e universos pessoais. Se Lescher explora o compasso estrutural de cheios e vazios, marcando seu ritmo poético, indicando o grande não-dito nele apreendido, Menna Barreto persegue, num percurso aparentemente lúdico, mas profundamente cruel, o lado oculto da arte, a metamorfose e o mistério cujo índice é o aleijão obtido pelo artista-mago em seu ritode passagem para esta "outra" visão.
Nas obras de Rogosinky, caixinhas de música soam e provocam a rotação de formas orgânicas ligadas por relações narrativas e paradoxais com os próprios materiais de que são feitas – embalagens de alimentos. Embora nascida numa geração e numa linhagem que faz grande uso da categoria "objeto" e privilegia o humor como arma, não seria absurdo encontrar ligações com os trabalhos que lhe estão vizinhos – os de Tunga.
Com uma grande diferença de linguagem e maturação poética – tecida há longa data –, os trabalhos de Tunga operam metamorfoses parecidas, entre materiais e contextura simbólica. O bronze fundido é "maquiado" com pasta d'àgua e as superfícies em positivo e negativo, produto de dois momentos de fundição, ocupam-se da cadeia significante que abraça as relações agônicas masculino-feminino.
Muitas outras tramas igualmente produtivas podem ser tecidas na visualidade momentânea, mas não de todo fugaz, propiciada pela intenção da curadoria: um olhar fluente sobre aspectos diversos da produção contemporânea tridimensional. Todas as obras são inéditas, contribuindo para que se vejam novos aspectos desses autores.
Além dos artistas citados,outros trabalhos igualmente provocantes são assinados por Ana Maria Tavares. Ângelo Venosa, Caito, Cildo Meirelles, Daniel Acosta, Edgard de Souza, Ernesto Neto, Nuno Ramos, Sérgio Romagnolo, Shirley Paes Leme e Valeska Soares.

Exposição: Esculturas recentes de 17 artistas brasileiros
Onde: Espaço Namour (r. Estados Unidos, 1862, Jardins, S. Paulo, tel. 280-1166)
Quando: Abertura hoje, 21h. De seg. a dom., das 11h às 21h.

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