São Paulo, terça-feira, 19 de abril de 1994
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De crise em crise

De crise em crise

DE CRISE EM CRISE

que se dedica à saúde no país.
A paralisação em si, ainda que inicialmente parcial, suscita crítica e inquietação. Afinal, até mais de 800 mil pessoas podem deixar de ser atendidas diariamente. Por outro lado, os hospitais da rede privada, que respondem por 75% do atendimento no país, afirmam que não têm condições de manter o serviço com os repasses oficiais chegando com defasagem de dois meses, sem correção monetária –prática cujos efeitos, num ambiente de inflação estratosférica como o atual, dispensam maiores comentários.
Ainda mais grave é que a perspectiva, segundo o próprio Ministério da Saúde, é apenas a de um agravamento progressivo. Os gastos com saúde por habitante no país, que se encontram no patamar africano de cerca de US$ 45 anuais por habitante –já estiveram perto dos US$ 80 há alguns anos– tendem a cair com as propostas de corte no Orçamento deste ano.
Não se trata aqui de questionar o imperativo de austeridade e de racionalização dos gastos públicos. Ao contrário, ressalta-se que isso deve ser feito com critério, o que significa definir prioridades entre as quais a saúde deve ter destaque.
Mais ainda, a racionalização é essencial até para permitir que se avalie se os atuais níveis absolutos de despesa já não seriam adequados, não fossem corroídos por uma combinação nefasta de ineficiência, desperdício e talvez até corrupção. Nesse sentido, mecanismos como o da descentralização (prevista, aliás, na própria Constituição) poderiam contribuir muito para combater tais fatores e maximizar o resultado que efetivamente chega ao cidadão.
O descaso continuado, a má gestão dos recursos, o desperdício, a falta de projetos e iniciativas são contudo evidências cabais de que o Estado brasileiro infelizmente continua a ignorar que manter os cidadãos que o sustentam vivos e minimamente saudáveis é uma das razões mesmas que justificam, ou deveriam justificar, a sua existência.

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