São Paulo, quinta-feira, 21 de abril de 1994
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O que tira o sono do governo

LUÍS NASSIF

O universo de preços aparentemente não chega a tirar o sono da equipe econômica, nem é fator determinante nessa demora em implantar o real. Para efeito de análise, a equipe dividiu o conjunto de preços entre quatro grandes blocos.
Em relação às tarifas públicas, não se vê nenhuma pressão inflacionária à vista. No final de maio estará fechada sua conversão para a URV.
Os preços industriais competitivos têm se comportado bem, sem puxar muito os índices. O comportamento dos preços não-competitivos, não ligados ao mercado de consumo, depende muito do grau de incerteza. A passagem para a URV provocou pressão inicial, mas a equipe sente que nervosismo diminuiu.
O setor chave são os preços agropecuários. A equipe está otimista no atacado. Tem observado uma desaceleração no preço em URV dos principais produtos agrícolas –arroz, feijão, farinha de mandioca, frango e carne. Mas esta queda ainda não chegou ao varejo, talvez em função de reajuste da margem do varejo, para compensar a perda do "float" (os ganhos financeiros decorrentes da compra à prazo, em cruzeiros, e venda à vista).
A equipe julga que assim que se definirem as últimas tarifas públicas (especialmente a nafta), irá haver uma rápida tranquilização da cadeia privada de preços.
O que tira o sono
O que definitivamente pode tirar o sono da equipe econômica é a situação dos bancos estatais –particularmente do Banco do Brasil. Sabia-se desde o ano passado que viria um plano de estabilização capaz de derrubar a inflação a níveis irrisórios –pelos menos na sua primeira etapa. Sabia-se, além disso, que o BB não tinha estrutura de custos para suportar inflação baixa. Alcançou baixíssimos índices de rentabilidade, mesmo usufruindo da inflação mais alta da história.
Mesmo assim, não se cuidou de prepará-lo para os novos tempos, confiando sua direção a pessoa gerencialmente apetrechada e com coragem suficiente para reestruturar o banco.
Agora a burocracia do banco vai precisar demonstrar se sua ligação efetiva vai além da mera administração de privilégios, encarando de frente um drástico programa de ajustamento.
Caso Liasa
A Previ (fundo de pensão do Banco do Brasil) entra em contato com a coluna para reclamar da demora da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em seu pronunciar sobre o caso Liasa –no qual a empresa mineira fez emissão de ações, depois solicitou concordata, transformando investidores em credores quirografários.
A Previ diz não entender o por quê da demora da CVM em se pronunciar, já que, pelas informações disponíveis, o inquérito é conclusivo e não deixa dúvidas pendentes para julgamento.
Caso do Orçamento
Somente esta semana, meses depois de receber o relatório da CPI do Orçamento, o procurador-geral da República, Aristides Junqueira, tomou a iniciativa de solicitar à Receita informações sobre as pessoas implicadas no processo.
Sua iniciativa não dependia de trâmites legais, não foi atrasada por limitações processuais, nem pela ausência de instrumentos legais. Para tomar esta medida, óbvia e preliminar, bastava-lhe tão somente remeter um ofício à Receita, solicitando as informações.
O procurador-geral e o Ministério Público Federal continuam sendo dois dos principais responsáveis pela falta de confiança da população na Justiça.

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