São Paulo, segunda-feira, 25 de abril de 1994
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Ricupero não teme contaminação do real

SÔNIA MOSSRI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, não teme que a inflação em URV (Unidade Real de Valor) contamine a nova moeda. Para o ministro, é até "impróprio" se falar em inflação em URV. "Além disso, nunca se esperou a estabilização econômica com a URV. Isso virá com o real", disse Ricupero.
O ministro disse à Folha que existe apenas a "inflação em cruzeiros reais", que não deve ser confundida com a URV. Ele fez uma comparação com um paciente febril.
"Se o paciente está com febre, não podemos dizer que a febre é do termômetro", disse. O paciente é a economia contaminada pela febre inflacionária do cruzeiro real e não pela URV, que seria o termômetro com o qual alguns economistas medem a inflação.
Apesar das explicações do ministro, apenas em abril, a própria equipe da Fazenda admite, reservadamente, houve o registro de uma inflação de 3% nos preços convertidos para a URV.
A assessoria de Ricupero também admite que o novo indexador é uma espécie de índice-moeda. Isso significa que a URV funciona de modo semelhante à extinta BTN (Bônus do Tesouro Nacional), que, no governo Sarney, foi parâmetro para fixação de preços pelos agentes econômicos.
Como a URV acompanha também a oscilação do dólar comercial, uma inflação pelo novo indexador significa também uma inflação em dólar.
A inflação "urvizada" resultaria das dificuldades de adaptação dos institutos de pesquisa à convivência paralela de preços em cruzeiro real e URV.
Ricupero mostrou-se preocupado com a possibilidade da divulgação de inflação em URV criar instabilidade nos meses anteriores ao lançamento do real, previsto para 1º de julho.
A Fazenda avalia que o medo da volta do controle de preços e a insegurança em relação à etapa inicial da URV levaram os agentes econômicos a praticarem aumentos preventivos de preços.
O anúncio do lançamento do real com 35 dias de antecedência, a autorização nos próximos dias para que os bancos realizem operações de captação em URV e a conversão das tarifas públicas para o novo indexador deverão gerar um recuo nos aumentos realizados nos últimos 6O dias.

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