São Paulo, segunda-feira, 25 de abril de 1994
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Pão, queijo, carne e goiaba

HELCIO EMERICH

Em meio a uma estagnação do mercado (as vendas não cresceram nos últimos dois anos e os consumidores estão comprando quantidades menores), os fabricantes de queijos dos EUA ganharam mais um problema: a regulamentação do governo americano (Nutrition Labeling and Education Act) vai tornar obrigatória a reformulação de todas as embalagens do produto, já que os rótulos deverão trazer informações completas (e legíveis) sobre o número de calorias e os índices de gordura e colesterol.
Para neutralizar os possíveis efeitos negativos da legislação e sacudir o torpor do mercado, uma das entidades de classe dos produtores (National Cheese Institute) vai iniciar em maio próximo uma campanha de propaganda, com verba de US$ 12 milhões, cujo objetivo é valorizar os componentes do queijo comprovadamente benéficos à saúde, como o cálcio e as proteínas.
A Beef Industrial Council, que reúne os produtores de carne bovina dos EUA, também está em campanha e o objetivo é o mesmo: estimular o consumo do produto.
A BIC se dará por satisfeita se conseguir fazer com que 3 milhões de famílias americanas incluam pelo menos um prato à base de carne em qualquer uma das suas três refeições diárias durante os próximos dez meses.
Além de comerciais na TV e anúncios na mídia impressa, a campanha (que conta com o apoio financeiro de uma conhecida marca de refrigerantes e do próprio varejo de carnes) vai distribuir milhares de folhetos com receitas e colocar à disposição dos consumidores um telefone 24 horas com informações sobre o valor nutritivo da carne e o preparo de pratos rápidos. Verba: US$ 10 milhões.
"Porquê a Mona Lisa está sorrindo?" – pergunta o título de um dos anúncios da promoção assinada pela D'Italiano Real Bread, fabricante de pães dos EUA. A mensagem é ilustrada com figura da Gioconda prestes a traçar sanduíche feito com o Pão da Real.
Um outro anúncio mostra a estátua de Daví segurando um sanchuíche gigante sob o título: "Porque o sanduíche favorito de Daví é o The Goliath?".
Os consumidores que escreverem para o anunciante respondendo às perguntas concorrem a 50 diferentes tipos de prêmios. Nada de muito genial mas, sem pagar cachês aos dois supermodelos e nem direitos autorais a Da Vinci e Michelangelo, a agência de propaganda da D'Italiano ajudou seu cliente a aumentar em 45% as vendas no período de cinco meses.
Os três "cases" acima me vieram à cabeça ao saber que os plantadores brasileiros de goiaba estão jogando fora parte da safra ou simplesmente erradicando as culturas da fruta por não encontrarem preços compensadores no mercado.
Como tantos outros produtores agrícolas, eles ainda não descobriram que problemas de estoque ou de superprodução se resolvem com a dinamização da oferta que, envolve, por exemplo, a abertura de novos canais de distribuição, a criação de novos usos para o produto e, naturalmente, esforço planejado de propaganda e promoção.
Produto que tem demanda, dita os preços.

HÉLCIO EMERICH é jornalista, publicitário e vice-presidente da Almap/BBDO.

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