São Paulo, segunda-feira, 25 de abril de 1994
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Técnico da Bolívia vira unanimidade nacional

JORGE GONZÁLEZ CORDERO
ESPECIAL PARA A FOLHA

sNa conturbada sociedade boliviana, poucas foram as unanimidades nacionais. Uma delas é o espanhol Xabier Askagorta, um basco de 40 anos, que conseguiu a façanha de classificar a Bolívia pela primeira vez para uma Mundial. Com autoridade de figura nacional, o basco concedeu esta exclusiva à Folha.

Folha – Com o seu passado de treinador na Europa, por que aceitou trabalhar na Bolívia, um país sem tradição futebolística mundial? Foi um desafio ou a oferta salarial foi muito boa?
Xavier Askargorta – É muito difícil na Bolívia existirem ofertas econômicas tentadoras. Foi realmente um desafio. Em primeiro lugar cheguei na Bolívia com 39 anos e tendo iniciado a minha carreira no clube Espa¤ol, da primeira divisão, com 29 anos. Foi um desafio importante para a minha formação, porque seria uma experiência nova na América e, ainda mais, tendo como perspectiva a participação em uma Copa.
Folha – Como o senhor definiria, hoje, o futebol boliviano?
Askargorta – Em primeiro lugar, uma tremenda desorganização. A própria economia boliviana contribui para isso, porque o nível aquisitivo do cidadão boliviano é muito baixo, o que reflete nas arrecadações. Por outro lado, devido à não existência de estradas boas, todas as viagens têm que ser feitas por avião, prejudicando o caixa dos clubes. Ainda há uma infra-estrutura amadora, dentro da qual quer se fazer um futebol profissional. Além do mais, tivemos que fazer com que o jogador boliviano percebesse que ele precisa ser profissional não só em jogo, mas o tempo todo.
Folha – Qual é a sua opinião sobre o futebol brasileiro?
Askargorta – Não pode se falar de futebol sem se falar do Brasil. Há pouco tempo assisti a um jogo do São Paulo que apresentou jogadores totalmente desconhecidos, mas o seu futebol permaneceu de alta categoria. Esse é o futebol brasileiro. Renovação constante. Por outro lado, essa mesma grandiosidade, às vezes, é muito difícil. Se o Brasil pudesse reunir os seus jogadores com dois meses de antecedência, ganharia tudo.
Folha – Pode apontar favoritos para a Copa?
Askargorta – Não gosto de prognosticar favoritos porque fica a sensação de ter deixado alguém de lado. Para mim, futebol se conjuga no presente do indicativo, não da fórmula espanhola, mas sim, na fórmula inglesa do presente contínuo, ou seja, o favorito vai aparecendo à medida que o torneio vai sendo disputado. Agora, se formos ao terreno da lógica, podemos dizer o que todos falam, Alemanha, Brasil, Argentina, Itália e até a Colômbia. Mas, olha, quando iniciamos as eliminatórias, apontavam o Brasil como o primeiro do grupo, o segundo era o Uruguai, o terceiro o Equador e a Bolívia teria que brigar com a Venezuela pelo quarto lugar. No entanto, hoje estou falando como treinador de um país classificado à Copa.
Jorge Gonzáles Cordero, 42, é jornalista profissional. Correspondente no Brasil do jornal Hoy e da Radio e TV Mundial de La Paz, Bolívia.

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