São Paulo, segunda-feira, 25 de abril de 1994
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Jogo do sexo mistura medo com opressão

MARCELO PAIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O mais revelador nas recentes pesquisas do comportamento sexual das mulheres é que uma considerável porcentagem delas fazem amor por pena. Pena?! Lá vamos nós, investigando os mistérios da natureza humana.
"Tadinho... Está bem, vamos lá de novo, na velha cama, a velha pose, e que velha mentirinha! Me deito, me abro, e pode fazer, vai, tudo bem, eu espero. Ai, ai... Apertou o ritmo; deve estar acabando. Aiii, aiii... Gostou? O que foi? Te adoro, por quê, não deu pra perceber? Claro que você é o homem da minha vida... claro que você é o melhor de todos... O Betinho? O Luizinho? Ora, já faz tanto tempo, sossega, meu leão, naquela festa eu estava alta, naquela viagem eu estava maluca, e se olhei aquele cara, na fila do cinema, é que ele é interessante, você não repara nas mulheres interessantes? Você está com ciúmes do meu passado, e não aguenta a possibilidade de eu ter tido outros. Não teve outras? Outra vez... pára, quer parar?! Tive, sim, tive vários, ainda bem, e não me arrependo. Foi bom o Betinho, o Luizinho, e outros que você não conhece, por que você teria de ser o único, você nem existia enquanto eu já era crescida? O que está fazendo?! Esta arma não está carregada, está? Vira isso pra lá! Vira! Não atira! Não!!!"
O quanto uma mulher com pena do seu marido aguenta? Aguenta o aquecimento, o alongamento, o hino, todo o percurso? Comemora no apito do juiz? Pensa no quê, no filme de ontem, no imposto de renda, no jogo do bicho, no Betinho e Luizinho? Pare, procure a lista, lembre, e descubra qual delas tiveram compaixão, aquela lá? Algumas tinham taras momentâneas, que acabaram quando o efeito das emoções se foram. Outras estavam curiosas, ou competiam com as amigas; coisas de mulher. Certas umas estiveram, pode falar, apaixonadas. Mas as da pena? Quais? Pense nisso, José!
Metafisicamente, a pena é privilégio de uma insegura. Sob culpa, imagina que seu prazer é resultado não de desejos próprios. Mas de investidas indefiníveis do outro, sempre abusador, insistente pecador que, com jogos de palavra da poderosa armação sedutora, engana mil sentimentos. E leva para a cama vítimas do caos da psique humana. E quando ela pede para ser amarrada? O assunto não acaba!

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