São Paulo, segunda-feira, 25 de abril de 1994
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Revolução dos Cravos faz 20 anos

JAIR RATTNER
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE LISBOA

Portugal comemora hoje os 20 anos da Revolução dos Cravos, que devolveu a democracia ao país, depois de 48 anos de ditadura. Começando com um golpe militar, a população portuguesa transformou o movimento num processo revolucionário.
Orquestrado por um grupo de cerca de 200 capitães e majores, o movimento do 25 de abril tinha um programa de três pontos: democratização, descolonização e desenvolvimento.
Ao saber que os militares pretendiam a democracia e o fim da guerra colonial, os portugueses começaram a dar cravos aos soldados, que os colocavam na ponta dos seus fuzis -daí o nome Revolução dos Cravos.
No processo que seguiu à derrubada da ditadura, o poder caiu na rua. Decisões governamentais eram ultrapassadas pela força de manifestações.
Em plena era Brejnev, Portugal chegou a ser o único país da Europa Ocidental com um primeiro-ministro que se submetia às diretrizes do Partido Comunista.
A principal razão para a queda do regime, derrubado pelo seu principal sustentáculo –o Exército-, foi a guerra colonial.
Durante 13 anos, os soldados portugueses combateram os movimentos de libertação nas colônias do país e não havia perspectivas para o fim da guerra.
Em 1974, quem ocupava o cargo de primeiro-ministro era Marcello Caetano. Antônio de Oliveira Salazar, que dirigiu o país desde 1926, sofrera colapso em 1968.
O colapso do ditador Salazar ocorreu por um motivo proverbial –ele caiu da cadeira. Morreu dois anos depois.

Fim do império
Para as ex-colônias portuguesas, o fim do império colonial não conseguiu trazer nem a paz nem o desenvolvimento.
Grande parte dos portugueses que se encontravam radicados nos "territórios ultramarinos", com medo das nacionalizações e da guerra civil, voltou para Portugal. Os novos países ficaram sem quadros para empresas e governo.
O pior caso foi o de Timor Leste. Para que não surgisse um país com governo de esquerda, a Indonésia invadiu o território assim que foi decidida a independência.
Desde esse movimento, Timor Leste vive um genocídio em que um terço dos seus 600 mil habitantes foi morto pelo invasor.
Em Angola, a guerra civil seguiu-se à independência. Dos três movimentos políticos –com raízes étnicas– permaneceram no terreno apenas dois: a Unita e o MPLA, que ocupa o governo.
Angola vive hoje a pior guerra do mundo, com relatos de mil mortes por dia, a maioria de fome.
Em Moçambique, a guerra civil começou apenas no final de década de 70, em grande parte impulsionada pela África do Sul. Hoje, o país espera que se realizem as primeiras eleições livres.
O paradisíaco arquipélago de São Tomé e Príncipe (oeste da África) enfrenta falta de recursos humanos e de capital para desenvolver o que pode ser a sua principal indústria –o turismo.

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