São Paulo, segunda-feira, 25 de abril de 1994
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Jogo perigoso

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES

SÃO PAULO – As relações perigosas entre o jogo do bicho, o tráfico de drogas, o suborno de policiais e a compra de políticos –que explodiram no Rio de Janeiro, com a apreensão de livros do contraventor Castor de Andrade– despertaram inicialmente em São Paulo uma reação de distância e olímpica superioridade.
Tratava-se, obviamente, de mais uma demonstração espetacular da decadência da ex-capital. De fato, a ação dos bicheiros cariocas tem sido muito mais visível e ousada que em São Paulo.
Endinheirados e famosos cariocas acolhem há anos, e bajulam, gente como o "Doutor Castor" –que, diga-se, contava até mesmo com a simpatia de dirigentes da Rede Globo, como José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, que desfilava na escola de samba mantida pelo contraventor.
É inesquecível, a propósito, o espaço concedido pela Globo, no Carnaval retrasado, a um patético discurso do contraventor.
Em São Paulo, a coisa é menos visível. Mas seria necessária uma inocência celestial para imaginar que os mais de 200 "banqueiros" que atuam na área metropolitana nada tenham a ver com corrupção de policiais e outros delitos.
A apreensão, em Guarulhos, de uma lista de pagamentos, no valor de US$ 20 mil, a integrantes das polícias militar e civil é apenas uma pequena amostra deste submundo que a cidade, por sua configuração geográfica e sócio-econômica, acaba tornando mais impenetrável e opaco do que o do Rio.
Se as listas são ou não completamente confiáveis, se este ou aquele está sendo "injustiçado" –são aspectos de um problema cuja extensão e gravidade é evidente: o crime organizado controla, no Brasil, setores do Estado. E não dá para não ver.

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