São Paulo, sexta-feira, 29 de abril de 1994
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Varejo descarta explosão de consumo

MÁRCIA DE CHIARA; FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Os supermercadistas estão cautelosos quanto à perspectiva de crescimento do consumo com a entrada do real em circulação.
Esperam constatar esse aumento para só depois ampliar as compras.
"Queremos sentir o mercado primeiro", diz Arthur Sendas, presidente do grupo Sendas, com 56 lojas no país.
Como a ociosidade é grande nas indústrias e nos supermercados, não há necessidade de se preparar para esse aquecimento na procura, afirma.
Entre os empresários ouvidos pela Folha, Sendas é o que está mais otimista. Ele aposta que as vendas nos supermercados devem crescer cerca de 10% no primeiro mês com a economia estabilizada.
Esse crescimento, segundo o empresário, não vai se limitar aos alimentos básicos. "Deve aumentar também o consumo de alimentos sofisticados", prevê.
Sendas acha que a elevação das taxas de juros pode afetar o consumo. Mas não acredita que o governo tenha optado por esse caminho.
Omar Assaf, vice-presidente da Apas (Associação Paulista de Supermercados), não descarta medidas para frear compras.
"Deve haver um aumento no poder de compra com a moeda forte", afirma Assaf. O tamanho do crescimento das vendas, diz ele, vai depender da taxa de juros.
Paulo Afonso Feijó, vice-presidente da Abras (Associação Brasileira de Supermercados) também não aposta de olhos fechados em crescimento. "Poderá haver um pequeno acréscimo no consumo com a estabilização", diz.
Segundo ele, o mercado está apreensivo. Nessas ocasiões os consumidores preferem poupar. Isso acaba afetando os negócios.
As estatísticas da Abras indicam que os supermercados vendem hoje 20% menos do que em 90.
No primeiro trimestre fecharam com queda de 5% nas vendas em relação a igual período de 93. Abril também deve ter desempenho negativo sobre o mesmo mês de 93, prevê o empresário.
Os empresários do setor de eletrodomésticos contam com o aumento de consumo na estréia do real.
Mas o crescimento da demanda, na análise deles, não será explosivo a ponto de provocar inflação. Cautelosos, vão manter o ritmo da produção.
"O consumo pode crescer, mas não deve explodir", diz Alberto Singer, diretor comercial da Black & Decker. '
A nova moeda, diz, vai trazer mais segurança para o consumidor. "Mas isso deve provocar aumento de vendas da ordem de 15% em relação a igual período de 93."
Lourival Kiçula, coordenador da área de eletrodomésticos da Abinee, que reúne a indústria elétrica e eletrônica, diz que as fábricas desse setor operam com ociosidade de 40%, em média.
"Assim, dá para atender o aumento de consumo sem preocupação –que deve ser de 20% neste ano, na comparação com 1993."
Segundo ele, as altas taxas de juros -para os contratos em URV estão em torno de 3% ao mês– barram a explosão de demanda.
A diretoria da Enxuta trabalha com a expectativa de aumento de vendas a partir de maio, puxado pelo Dia das Mães, informa Júlio Duso, gerente de marketing.
Segundo ele, há 20 dias as negociações com os clientes deslancharam e está "muito mais fácil vender. Mas não vamos investir em estoques."
Para os empresários, o governo não deve adotar medidas para conter o consumo. "Isso seria um erro", afirma Singer, da B&D. Para ele, a indústria tem ociosidade e por isso pode abastecer o mercado.

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