São Paulo, sábado, 30 de abril de 1994
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Feito com defeito

JANIO DE FREITAS

As coisas estão ficando mais complicadas para Fernando Henrique, mesmo que não se considere a absolvição do deputado Ricardo Fiuza como mais um aspecto oneroso para o PSDB, na aliança com o PFL.
A formalização do convite de Fernando Henrique ao deputado Luís Eduardo Magalhães, para ser seu vice, envolve consequências ainda incontroláveis. O convite só foi possível com o cuidado preliminar de submeter o líder pefelista à máquina de moer reputação pessoal. Com isso, o PSDB não recusou Luís Eduardo, mas criou as condições para que ele recuse o convite. Assim estaria resolvido o problema com o rebelado PSDB baiano sem, no entanto, atingir a aliança PSDB-PFL. E se Luís Eduardo aceitar? No mínimo, a rebeldia baiana vai se alastrar.
Há algo obscuro neste jogo entre o PFL e o PSDB. Não se sabe ainda que forte motivo (só pode ser forte) fez com que o governador Antonio Carlos Magalhães contivesse tanto a sua natureza, para suportar entre silêncios e sorrisos o tratamento até humilhante dado a Luís Eduardo. Mesmo com esta obscuridade, porém, é certo que o governador não se empenhará por Fernando Henrique se Luís Eduardo não fôr o candidato a vice. Ora, o apoio dedicado de Antônio Carlos Magalhães foi uma das principais atrações, se não foi a principal, vistas por Fernando Henrique no PFL.
Diz-se que a aliança PSDB-PFL está feita. Melhor seria dizer que está mal feita. Ou, melhor ainda, que continua sendo uma perspectiva sem horizonte definido.
Nota preta
Em nota oficial sobre a esquisita presença da Rádio Eldorado nas tais folhas duvidosas do jogo do bicho, o grupo Globo informa que suas investigações concluíram tratar-se de "divulgação publicitária no programa de turfe", iniciada "em setembro de 89" e "até dezembro de 91, quando o programa foi extinto".
Para o grupo Globo, desde "os primeiros dias da apuração estabeleceu-se a certeza de que a lista do bicho era verdadeira", e os que nela aparecem são os "que se deixaram corromper pelos bicheiros". Como não se pode imaginar os proprietários do grupo Globo corrompidos pelos bicheiros, conclui-se que suas investigações devem ser retomadas. Seja em torno da afirmada autenticidade integral das tais folhas em que aparece a Eldorado, seja no que respeita à própria emissora. Porque, contrariando a explicação de "divulgação publicitária até dezembro de 91, quando o programa foi extinto", as folhas continuam registrando pagamentos à Eldorado, mês a mês, até junho de 92.
Como contribuição à retomada das investigações, informa-se que de janeiro de 90 (início da contabilidade apenas datilografada em papel comum) a junho de 92, é atribuído à empresa do grupo Globo o recebimento, em conversão pelo dólar de início do mês, do equivalente a US$ 163.875,18.

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