São Paulo, sábado, 30 de abril de 1994
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'Bienal Brasil' provoca polêmicas

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Nem bem apagou o foguetório sobre a "Bienal Brasil Século 20", ainda estavam no ar os hurras, e a maior mostra de arte feita no Brasil já levantava polêmicas. "A seleção de obras é criminosa. O Leonilson que está lá não é Leonilson", diz a marchande Regina Boni, 49.
"Aqueles trabalhos que estão lá não me representam", afirma a artista Amélia Toledo, 67. Ela tem três trabalhos na mostra - sdois de 1969 e um de 1983. "Não parei em 1983", reclama.
"Estão tentando reduzir o meu trabalho, me aprisionar numa fase, não sei se por ignorância ou negligência"., esbraveja Antonio Henrique Amaral, 58, representado com seis obras na mostra, a mais recente delas de 1983.
É a ambição da "Bienal Brasil" se voltando contra ela, na análise do artista José Resende, 49.
Ao reunir 921 obras de 240 artistas com a propostas de reescrever a história da arte brasileira do século 20, a "Bienal Brasil" acabou encarnando o papel de Senhor da história, com poderes de incluir e excluir nessa história quem os curadores quisessem.
" É meio bobo achar que quem nbão está incluido na mostra está fora da história. a história da arte brasileira está para ser escrita", argumenta José Resende.
Pode ser "meio bobo", mas, enquanto a tal história não é escrita, é a história da "Bienal Brasil" que vigora.
Nessa história falam artistas como Frans Krajcberg, que se recusou a participar, Djanira e Brenand (leia lista com alguns dos excluídos à pág. 5-7).
Mas é a exclusão de certas obras, e não de alguns artistas, que está o maior problema, segundo Regina Boni. ela prefere citar só os que considera bem representados para encurtar a lista : Guinard e Nuno Ramos.
"Não tem Tarsila do Amaral da fase antropofágica, não tem as bandeirinhas do Volpi, não tem as 'droguinhas' da Mira Schendel, não tem penetrável do Hélio Oiticica, os Vicente do Rêgo Monteiro são os piores possíveis", enumera.
Com essas exclusões, segundo ela, vai para o ralo a pretensão didátiva da mostra.
"Como um leigo vai entender a história sem ver uma Tarsila da fase antropofágica?", pergunta.
O viés adotado pela exposição, a idéia de que a arte brasileira só se tornou autônoma em relação a modelos estrangeiros nos anos 60, é que distorce a história, na visão de Antonio Henrique Amaral.
"O que me incomoda nesta mostra ´pe a ignorância sobre o passado. Adotar as obras de Oiticica, Lygia Clark e Mira schendel como sendo o eixo da arte brasielria neste século é forçar muito a barra", crítica Amaral.
Para ele, não dá para ignorar o caráter "heróico" do modernismo brasileiro.
"Os modernistas inventaram tanto quanto o Hélio Oiticica. essa idéia de mostrar a força de uma nova modernidade me lembra o Collor importanto BMWs. É ridículo e fascista", classifica.
Fascista, segundo Amaral, porque Nelson Aguiar, o curador da Bienal, está tentanto "varrer para o lixo da história os artistas com os quais não concorda".

LEIA MAIS
Sobre a "Bienal Brasil Século 20" à pág. 5-7

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