São Paulo, sábado, 30 de abril de 1994
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Braga põe camisinha no horário nobre

ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL

Gilberto Braga vai hastear a bandeira da camisinha em "Pátria Minha", título provisório da novela que substituirá "Fera Ferida" dentro de três meses na Globo.
Preocupado com o avanço da Aids, o autor carioca quer aproveitar a trama para incentivar o uso de preservativo entre os brasileiros.
"A novela fará campanha pró-camisinha", diz. Sempre que possível os personagens de "Pátria Minha" passarão a idéia de que só transam com preservativos.
"Apenas os casais absolutamente fiéis, que estão juntos há muito tempo, irão dispensar a camisinha na novela", adianta Braga.
O autor escreve a história com Leonor Basséres, Sérgio Marques, Ângela Carneiro e Alcides Nogueira. A idéia de incorporar a camisinha na trama partiu dos cinco.
"A Aids é um problema muito sério", afirma Gilberto Braga. "Como a televisão atinge todo tipo de pessoas, inclusive as que não têm informações sobre a doença, nos parece útil abordar o tema em horário nobre."
O escritor aponta ainda, outro motivo para falar de camisinha durante a trama: a costumeira identificação do público com os personagens de novelas.
Identificação que parece aumentar quando a história leva a assinatura de Braga.
Exemplo: em 1991, o autor colocou o incorruptível Beija-Flor para contracenar com um sem número de vilões na novela "O Dono do Mundo".
O personagem interpretado por Angelo Antonio, agradou em cheio os telespectadores.
À época, o Ibope promoveu uma pesquisa sobre corrupção no país. O levantamento constatou que Beija-Flor se tornara símbolo de ética para os brasileiros – um exemplo que, diziam os pesquisados, todos deviam seguir.
Por que o mesmo fenômeno não pode se repetir com a camisinha?
Braga esclarere que "Pátria Minha" evitará minúcias técnicas do tipo "como fazer para colocar o preservativo corretamente".
"Nas cenas de amor, os personagens não aparecerão manipulando a camisinha. Isto comprometeria o romantismo das imagens", explica o autor.
Ele aposta em uma campanha pouco mais sutil. "Como a novela irá falar muito do assunto, ficará claro para o público que os personagens estarão de camisinha na hora da transa"– mesmo que o preservativo não apareça.
Os autores, garante Braga, pretendem tratar da Aids sem apelar para o terrorismo. Tentarão dizer, por exemplo, que o uso de camisinha não diminui o potencial erótico de uma transa.
Recentemente, na novela "Fera Ferida", dois personagens importantes – Raimundo Flamel (Edson Celulari, e Linda Inês (Giulia Gam) – não fizeram nenhuma menção à camisinha enquanto dividiam a primeira noite de amor.
O fato provocou protestos do público e de especialistas em Aids. Um dos autores da novela, Aguinaldo Silva se defendeu. "A novela não discute o tema porque tem como objetivo apenas divertir", disse à imprensa em março.
"Concordo com o Aguinaldo", afirma Gilberto Braga. "Fica esquisito falar de camisinha em "Fera Ferida", porque não se trata de uma novela realista."
Se Aguinaldo não tem compromisso com o realismo, Braga quer ter. "Pátria Minha" discutirá, além da Aids, outros temas polêmicos, como "os pais devem permitir que adolescentes transem com namorados em casa?"

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