São Paulo, segunda-feira, 2 de maio de 1994
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Abujamra volta em `Inspetor Geral'

MARCO CHIARETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Espetáculo: O Inspetor Geral
Autor: Nicolai V. Gógol
Direção: Antônio Abujamra
Adaptação: Antônio Abujamra
Onde: sala Osmar Rodriguez Cruz, do Teatro Popular do Sesi (av Paulista, 1313; tel. 011/284-9787)
Quando: estréia hoje, às 21h, só para convidados, e quarta, para o público; quartas a sextas, às 20h30, sábados e domingos, às 18h e às 20h30
Quanto: a entrada é gratuita; filipetas devem ser retiradas antecipadamente na bilheteria do teatro e trocadas por dois ingressos cada duas horas antes do espetáculo
Elenco: Antônio Abujamra, Clarisse Abujamra, Francarlos Reis, Abrahão Farc, Walter Breda, Fernando Peixoto
Sinopse: A tranquila vida de uma pequena cidade do interior da Rússia é abalada pela chegada de um inspetor geral, mandado pelo governo para investigar os funcionários

"O Inspetor Geral" ironiza a corrupção burocrática desde 1836. A partir de hoje, o diretor e ator Antônio Abujamra recria a comédia de Nicolai Gógol no Teatro Popular do Sesi, em São Paulo.
Abujamra, ou Abu, volta à cidade depois de cinco anos no Rio. Convidou 23 atores para montar a nova peça, entre eles vários da "velha guarda" teatral.
Ele mesmo é Anton Antonovich Mukanovski, o prefeito de Zaratovna, a cidadezinha que recebe em 1835 a visita de um inspetor mandado pelo governo para investigar os pecados eventuais dos funcionários da prefeitura, Mukanovski incluído.
"Somando a idade de todos os atores, passamos de 2.100 anos", diz Abujamra, 62, que estreou na carreira em 1951, em "A Verdade de Cada Um", do italiano Luigi Pirandello. Dirige desde 1961, quando montou "Raízes", de Arnold Wesker, com Cacilda Becker.
Em 1988, Abu largou a direção e voltou a ser ator. Trabalhou na TV. Seu personagem mais conhecido foi o bruxo Ravengar, na novela "Que Rei Sou Eu?" (1989).
Abrahão Farc, Fernando Peixoto, Walter Breda, Chico Martins e Francarlos Reis estão no elenco, este último como o inspetor Ivan Alexandrovich Khlestakov. Reis está também na produção administrativa do espetáculo.
Clarisse Abujamra, sobrinha de Abu, é Ana Andreievna Mukanovska, a mulher do prefeito. Outra Abujamra, Fernanda, uma das protagonistas do "Hamleto", montado por Abu em 1985, é uma viúva (siamesa), Feferona Petrovna Pochelepkna. André, filho de Antônio, fez a música.
Os veteranos Ninette Van Vichelen e Tulio Costa cuidam dos figurinos e da cenografia. Abu fez a adaptação do texto.
"Eu falo do poder", diz o prefeito-diretor, "e Gógol falava da corrupção do poder. Púchkin dizia a seu amigo: `Como sua peça é triste'. E ria enquanto falava... Genial... Gógol se divertia. Aliás, li sete versões da peça para montá-la e em cada uma delas Gógol é melhor do que nós. Um clássico...".
Para Abu, "os clássicos são bons porque são populares. Vou fazer um espetáculo para meu tempo, incluir trechos de outros textos de Gógol e passagens de outros autores. Falso respeito esvazia o texto importante. Isso não quer dizer verticalizar, empobrecer. A meta é receber e transfigurar, até porque o que não é tradição, é plágio".
Como Abu gosta de surpreender, vive repetindo declarações, e não gosta de entrevistas, tudo o que ele diz pode até ter sido já dito. Por ele ou por outro."O que é bom em segredo é melhor em público", diz o diretor, que completa: "Racine. Não sou eu...".
"Fracasso nesse palco leva um ano, e como no Brasil, afinal, não se sabe bem o que é corrupção, é possível que `O Inspetor' seja um fracasso", diz Abujamra.
"Os funcionários de Zaratovna não acham que aquilo que eles fazem seja crime. Um deles declara: `Eu sou facilmente subornável', e sorri. Difícil", diz o diretor, "é o trabalho do ator, que tem que saber tudo e não usar".
O espetáculo faz parte do Projeto 94 do Teatro Popular do Sesi. Além de Abu, foram convidados Bia Lessa e Ulysses Cruz.

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