São Paulo, segunda-feira, 2 de maio de 1994
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Mandela, virtual eleito, faz discurso moderado

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A JOHANNESBURGO

Nelson Mandela, 75, prisioneiro político por 27 anos e um ex-radical, tornou-se ontem o virtual presidente eleito da África do Sul e imediatamente acentuou ainda mais o discurso moderado que já adotara durante a campanha.
"Jamais obteremos o apoio do empresariado se tivermos políticas radicais", disse Mandela, ao saber que o partido Congresso Nacional Africano estava praticamente confirmado como o grupo majoritário nas eleições da semana passada.
Mandela teve ainda o cuidado de recordar que o programa do CNA "não faz uma única referência à nacionalizações" (leia-se estatização) e não tem "um único slogan que nos conecte com qualquer ideologia marxista".
Mais ainda: Mandela anunciou que recomendará a manutenção do atual presidente do Banco Central sul-africano, Chris Stals, adepto de políticas orçamentárias equilibradas.
Negou ainda que pretenda aumentar os impostos, especialmente sobre a minoritária população branca.
"Se há alguma coisa de que sou consciente é de não assustar as minorias, especialmente a minoria branca", afirmou o virtual futuro presidente, o primeiro negro na história sul-africana.
Pelos resultados oficiais divulgados até 21h de ontem (16h em Brasília), o CNA obteve a maioria absoluta dos votos (53,3%), mas ficou aquém dos 67% que lhe permitiriam elaborar uma nova Constituição sem precisar do apoio de outros partidos.
O quórum mínimo para a nova Carta é de 2/3 (268) dos 400 integrantes da Assembléia Nacional que, dia 6, elege o presidente. A posse está prevista para o dia 10.
Computados cerca de 20% dos votos, só o CNA e o Partido Nacional, do atual presidente F.W. de Klerk, atingem ou superam os 5% dos votos, índice mínimo para participar do futuro governo de unidade nacional.
Com os 33,6% conseguidos, De Klerk será um dos dois vice-presidentes, já que só partidos com 20% dos votos têm direito a uma Vice-Presidência.
A boa vontade retórica de Mandela é respondida pelo empresariado na mesma moeda. Pesquisa divulgada ontem mostra que a principal questão estratégica que o empresariado terá agora pela frente será a "ação afirmativa".
É o jargão local para designar a contratação de negros, especialmente para postos gerenciais.
Pesquisa realizada entre 65 executivos de empresas que vendem por ano o equivalente a US$ 5,7 bilhões, revela que 48% colocam a "ação afirmativa" no topo das prioridades.

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