São Paulo, quarta-feira, 4 de maio de 1994
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`Quando vi o rosto de Senna, fiquei gelado'

RICARDO SETYON; MICAELA TRIGO
DE BOLONHA, ESPECIAL PARA A FOLHA

A 40 metros do mortal acidente de Ayrton Senna, Stefano Bonaiuti presenciou o fim da carreira do piloto. Esse enfermeiro de 40 aos, que também é o coordenador-técnico de todos os serviços da UTI e urgências da região de Bolonha, foi o primeiro a chegar ao socorro de Senna, antes de qualquer médico. Ainda abalado emocionalmente e entre choros, Stefano Bonaiuti deu entrevista à Folha:

Folha - Você viu bem de perto o acidente. Qual foi sua impressão do que aconteceu?
Stefano Bonaiuti - Eu estava muito perto da curva Tamburello. O que vi não vou esquecer nunca.
A velocidade que o carro entrou na curva era impressionante, mas já era de se esperar, quando uma organização não define um limite.
Além dos 30 cm de grama, a curva é feita só de concreto, sem nenhum tipo de proteção e amortecimento. Quando tirei o capacete de Senna, fiquei gelado.
Dois dias atrás, quando foi visitar Barrichello, cumprimentou-me e felicitou-me pelo grande trabalho que havíamos feito com Rubens, e naquele instante estava morrendo nas minhas mãos.
Folha - No hospital, o ambiente era de muita tensão, mesmo antes de o corpo chegar. Como pode descrever a situação da equipe no transporte de Senna?
Bonaiuti - Quando retiramos o capacete de Senna a visão foi terrível. Em 17 anos de experiência, poucas vezes vi um rosto em tão péssimas condições.
Mesmo antes de o helicóptero chegar, já trabalhávamos na reanimação do corpo, mas a hemorragia era muito grande, devido ao grande impacto no lado frontal direito da cabeça.
Era inacreditável ver o quanto Senna lutava como um touro para continuar vivo, juntamente com o corpo médico, que continuou lutando para haver reações positivas.
No hospital, para ganhar mais tempo, corria com os resultados do eletroencefalograma de um lado para outro, sempre na esperança de que Senna nos surpreendesse.
Folha - Qual é a impressão que Senna deixou em você depois desse terrível desastre?
Bonaiuti - Minha impressão e admiração pelo Senna já vêm de muito tempo atrás. Vem da época que ele começou a aparecer e a surpreender nas pistas, como ninguém mais poderia fazê-lo.
Era delicioso ver sua superioridade, conseguindo sempre o mais difícil, como ser o "campeão da chuva", mostrando a intimidade que tinha com as pistas.
Além de tudo, mostrou sempre ser uma pessoa conscienciosa, como no sábado, após a morte do piloto austríaco. Ele queria esclarecimentos sobre o acidente.

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