São Paulo, quinta-feira, 5 de maio de 1994
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Tabernas dissolvem distinções de classes

PENELOPE CASAS
DO "TRAVEL/THE NEW YORK TIMES"

A taberna faz parte da vida espanhola há séculos. Quando o rei Felipe 2º fez de Madri sua capital, em 1561, a taberna já era uma tradição enraizada.
As ruas da cidade viviam apinhadas de gente e, na mais fina tradição democrática, todos frequentavam as tabernas.
Durante séculos, os reis e suas cortes fugiam para as tabernas lotadas nas cercanias do palácio para escapar das pressões da vida pública e manter encontros amorosos.
Conta-se que o pintor Francisco de Goya foi apunhalado por um marido ciumento em uma taberna.
O fato é que as tabernas eram tão lucrativas que até mesmo os conventos de Madri começaram a produzir vinhos e instalar bares.
Mas foi só no final do século 19 e início do 20 que as tabernas de Madri atingiram seu auge, adquirindo um acabamento mais fino.
Acessíveis a todos, dissolviam as distinções de classe. A elite cultural, fascinada pela vida boêmia das tabernas, se reunia todas as noites para jogar conversa fora ou manter discussões intelectuais.
As tabernas de Madri desafiam qualquer definição. Elas oferecem "tapas" (petiscos variados), mas não são bares de "tapas"; servem bebidas alcoólicas, mas não são exclusivamente bares; muitas delas servem almoço e jantar, mas não são exatamente restaurantes.
E são muito diferentes de cafés, que frequentemente têm aparência "belle époque" e são lugares onde se pode passar bastante tempo tomando um café (as tabernas normalmente não servem a bebida).
Qualquer pessoa reconhece de cara uma taberna madrilenha. Entra-se em uma porta normalmente pintada de vermelho enferrujado.
Azulejos de todas as cores e padrões cobrem as paredes e a decoração toureira de décadas passadas permanece intocada.
O ambiente é de barulho e agitação generalizada, enquanto os frequentadores habituais conversam animadamente, fazem amizade com estranhos e passam as tardes jogando baralho e dominó.
O ponto central da taberna é seu bar. Alguns dos mais atraentes são o bar de madeira esculpida da Casa Paco e o belíssimo bar de ônix esculpido da Casa Alberto.
Os balcões dos bares tradicionalmente são recobertos de zinco, e atrás deles são mantidos frios vinhos tintos e brancos novos da região de Valdepe¤as.
Os pequenos restaurantes situados nos salões nos fundos de algumas tabernas muitas vezes adquirem uma importância maior do que o próprio bar, como é o caso do La Bola e da Casa Ciriaco.
Os menus são despretenciosos e oferecem comida simples e caseira, incluindo feijão com chouriço, omelete de batatas, miolos ou "escargots" em molho páprica, sopa de alhos da Castilha e escabeches de codornas, perdizes, trutas, anchovas brancas ou sardinhas.
O famoso cozido madrilenho de grão-de-bico, "cocido a la madrile¤a", geralmente aparece no menu do almoço uma vez por semana. Sempre se podem pedir ovos fritos com "migas" (pedacinhos de pão frito) e chouriço.
O copo de vinho em uma taberna vale cerca de US$ 0,50 (CR$ 635,00). Os tapas custam entre US$ 1 (CR$ 1.270,00) e US$ 6 (CR$ 7.620,00) a porção, que geralmente dá para duas pessoas.
Uma refeição com vinho da casa sai entre US$ 7 (CR$ 8.890,00) e US$ 14 (CR$ 17,8 mil).
O horário de almoço costuma ser das 13h30 às 16h, e o do jantar das 21h às 23h30.

Tradução de Clara Allain

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