São Paulo, domingo, 8 de maio de 1994
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Petista milionário concorre em GO

WILLIAM FRANÇA
ENVIADO ESPECIAL A GOIÂNIA (GO)

Um petista milionário quer ser governador de Goiás. O empresário Luiz Antônio de Carvalho, 62, diz que "não há conflito entre ser do PT e ter dinheiro". O seu patrimônio, segundo ele, alcança US$ 90 milhões.
Por ser um petista atípico, embora filiado ao partido desde 85, está sendo utilizado pelo candidato à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, como demonstração de que o capital e os ideais petistas podem conviver amigavelmente.
Além dos ideais, Carvalho tem outra semelhança com Lula: os dois têm um dedo da mão esquerda cortado por acidente de trabalho.
Lula perdeu o mindinho numa prensa aos 19 anos. Carvalho perdeu uma falange do dedo médio numa polia, quando tinha 14. Ele trabalhava numa fábrica do pai.
No encontro nacional do PT em Brasília, há uma semana, Carvalho foi apresentado por Lula aos jornalistas estrangeiros como um exemplo desse convívio. Antes, na caravana de Lula por Goiás, foi apresentado a líderes rurais.
Carvalho diz que instituiu em suas empresas o "método sociocrático" de administração: ele afirma que divide responsabilidades e lucros. Tem 12 empresas, sendo duas importadoras de veículos.
O candidato do PT goiano é adepto de teorias do naturalismo e acredita em numerologia e no poder da cabala. Ele é chamado pelos companheiros de "zen".
Evita tomar café e usa invariavelmente uma camisa de manga comprida (preferencialmente listrada), quase toda fechada, com uma camiseta branca por baixo.
Morando numa cobertura em Goiânia, acorda cedo (6h30), corre na própria sacada ("para ativar a circulação e a mente") e toma um café à base de frutas, levedo de cerveja, farelos de trigo e mingau. Não dispensa uma dose de sumo de limão e adora chá de canela.
Prefere comidas que não precisem ser cozidas, mas não dispensa carne. Tem um hábito incorrigível: depois do almoço, dorme entre dez a quinze minutos. "É um sono profundo que me reenergiza."
Casado, quatro filhos, Luiz Carvalho acha que não é tão "alternativo" como tentam classificá-lo. "Sempre tive interesse em coisas que me ativem o corpo e a mente para responder às solicitações."
Agora está preocupado com leituras sobre programas de governo e as formas de implantar as idéias que cultiva em 35 anos de empresário. É um dos entusiastas do programa de "Qualidade Total".
Em 1964, foi cassado quando era vereador pelo PTB em Cuiabá. Acabou transferido pelo Banco do Brasil para Anápolis (GO), em represália à sua atuação sindical.
Advogado militante por 15 anos, lecionou Direito. Não perdeu o estilo de professor até hoje: fala didaticamente e gesticula muito.
Ligado à área cultural –"tenho vários amigos"–, foi o financiador do filme sobre o Césio 137, em 85. Frequenta teatros, cinemas e espetáculos de dança.
Começou sua vida empresarial produzindo adubo a partir do lixo de Anápolis. Foi trocando de ramo até ser hoje o diretor-presidente do Grupo Coplaven.
Emprega mais de 700 funcionários em uma empresa de consórcio, uma seguradora, duas revenderoras de veículos Fiat, uma importadora de máquinas agrícolas, além de editora, agência de turismo e indústria de bebidas.
Uma das empresas, a Agrícolas Recreio, administra suas fazendas. A maior, em Paranã, tem 3.400 hectares ocupados com plantação de caju e coco, além de gado de corte. Tem 37 barragens na região.
Apesar do patrimônio, diz que é possível se dedicar à política. "Estou fora do comando há oito meses e tudo está bem."

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