São Paulo, domingo, 8 de maio de 1994
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Inflação deixa mercado desnorteado

NILTON HORITA
DA REPORTAGEM LOCAL

A dispersão dos índices de inflação está provocando um nó na cabeça dos profissionais do mercado financeiro por causa da URV (Unidade Real de Valor).
Em março, o IPC (Índice de Preços ao Consumidor) da Fipe ficou em 41,94%, enquanto o IGP-M avançou para 45,71%. No mês passado, a curva inverteu-se. Fipe apontou 46,22% e o IGP-M, 40,91%.
O resultado é o aumento do tamanho dos lucros e prejuízos do sistema financeiro. O maior risco levou à redução dos volumes operacionais de várias instituições.
Os motivos são fortes. Aqueles que possuem títulos federais indexados ao IGP-M, que chegam a US$ 8 bilhões, por exemplo, amargam prejuízo de cerca de US$ 160 milhões.
O banco contratou, na compra, receber um juro médio anual de 20% mais a variação do IGP–M, o que dá 1,5% ao mês.
Para financiar a compra, arrumou dinheiro no mercado. Em abril, o Banco Central praticou um juro real de acordo com a URV (Unidade Real de Valor).
A URV foi resultado de um ponto médio entre Fipe, IPCA Especial e o próprio IGP–M. Como a Fipe foi muito maior, jogou a URV para cima, assim como o juro da economia que serviu de taxa para a aquisição da própria NTN (Nota do Tesouro Nacional) adquirida.
Mas esta é apenas uma parte do jogo. Há mais: o mercado futuro de juro da BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros) e os negócios entre bancos, que compram e vendem dinheiro de acordo com as suas expectativas.
Somando-se tudo, as estimativas chegam a US$ 500 milhões, os recursos que trocaram de mãos no sistema. É o quanto alguém perdeu, para outro ganhar.
Em todos os mercados, funciona a lógica do prever a inflação para ter a base de cálculo do juro que o BC vai colocar em cima dele.
Com a entrada da URV, este exercício ficou mais difícil. "A nossa vida era mais simples com um índice só", afirma Oswaldo de Assis, diretor da Corretora Convenção.
"Temos que prever índices que não estávamos preocupados no exato momento do aumento da dispersão de taxas", completa Geraldo Carbone, diretor do Boston.
Não é difícil imaginar que as chances de erro nos prognósticos aumentaram. Os bancos se acostumaram a olhar a inflação pela Fipe. O resto servia para acompanhar a tendência dos preços.
Em abril, a maioria ficou olhando para a Fipe como referência, que deu 46,22%. Não conseguiram vigiar o IGP–M e o IPCA-E, que deram muito abaixo.
Ganharam aqueles bancos que ficaram posicionados na ponta de venda. Ou seja, deram dinheiro ao mercado. Perderam os que compraram dinheiro.
As discrepâncias entre os índices ocorrem em períodos curtos. Abril registrou as maiores diferenças. Passam-se os meses e eles tendem a se aproximar.
Um poupador tradicional de caderneta, com conta no dia 1º, recebeu rendimento líquido de 317,75% de janeiro a abril.
Neste mesmo período, o IGP-M ficou em 301,98%, o IPCA-E 294,44% e o IPC da Fipe, 302,39%.
A margem da poupança sobre o IPCA-E atingiu quase 6%, o "juro" prometido para um ano inteiro. Comparada com o IPC da Fipe, a caderneta deu um lucro também razoável de 3,82%.

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sobre índices nas págs. 2-8 e 2-12.

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