São Paulo, domingo, 8 de maio de 1994
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Taxas de inflação ainda causam confusão

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

O brasileiro convive há tanto tempo com a inflação e, mesmo assim, continua levando sustos quando os índices que a medem são divulgados.
Comentário corriqueiro é o de que a inflação é bem maior que a mostrada pelos índices.
Isto se explica porque a percepção que a maioria dos consumidores tem da inflação é localizada em preços específicos.
Se ele anda muito de ônibus e a passagem sobe 48% num mês, por exemplo, este percentual passa a ser a sua referência.
Uma pessoa idosa e doente tende a fazer dos preços dos remédios –que subiram muito nos últimos anos– o seu "termômetro".
Os institutos levantam centenas de preços e cada um deles tem um peso específico, de acordo com pesquisas, feitas de dez em dez anos, sobre as despesas normais de famílias com uma renda-padrão.
As taxas de inflação são apuradas por média ponderada. Numa família de baixa renda, a alimentação pesa muito mais que nas classes média e alta. E, dentro deste item, o preço do alho, por exemplo, influencia menos o índice final que o do arroz ou feijão.
Outro foco de confusão, ligado à percepção do cidadão comum, é a comparação de um mesmo preço no início e no final do mês. Medida dessa forma, ponta-a-ponta, a taxa de inflação é mero instrumento de análise de tendência.
A taxa de inflação medida pelos institutos reflete a variação dos preços médios em 30 dias contra os 30 dias anteriores. Raramente concide com a ponta-a-ponta.
É que a taxa de inflação está relacionada a seu impacto no bolso do consumidor. Imagine que um preço seja CR$ 100 no dia 1º e só no dia 30 suba para CR$ 140. A "inflação" seria de 40%, mas o consumidor pagou CR$ 100 durante 29 dias daquele mês.
A desconfiança em relação aos índices também vem à tona quando eles mostram discrepâncias, como ocorreu em abril com o IPC da Fipe (46,22%), IGP-M (40,91%) e IPCA Especial (41,25%), usados para calibrar a URV.
Essas diferenças são normais e explicadas pela metodologia, local de pesquisa e período de coleta de preços (ver quadro). Tendem a diminuir ao longo do tempo.
Fipe e IPCA-E fecharam 1993 com diferença de 2,28%. O IGP-M se distanciou mais, 5,30%, porque inclui preços no atacado.

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