São Paulo, domingo, 8 de maio de 1994
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Para superar a crise

ROBERTO TEIXEIRA DA COSTA

A internacionalização da economia brasileira intensificou o processo de profundas mudanças nas empresas privadas, em particular nos últimos anos. Teriam tais mudanças sido suficientes para assegurar aos administradores olhar para o futuro despreocupadamente?
Mesmo admitindo-se que daqui para a frente as evoluções tecnológicas não venham a acontecer com a mesma velocidade que em passado recente, ainda assim um processo acelerado de mudanças na economia mundial continua em curso.
Respeitando-se as exceções, de uma forma geral as empresas conseguiram buscar sua adequação, realizando internamente o que era imprescindível à sua própria subsistência.
Eliminaram-se gorduras, reduziram-se os escalões administrativos, enfatizando-se as atividades básicas, desvincularam-se das atividades não diretamente relacionadas ao "core business", além da terceirização de vários serviços. Os custos foram efetivamente cortados.
Resta-nos aferir, todavia, se estão preparadas para enfrentar de igual para igual os produtos importados e a competivividade nos mercados externos.
As empresas vivem ainda esta fase e sua implementação exige uma velocidade moderada devido às condições peculiares de uma economia em fase final de um ciclo recessivo, elevado custo de capital e dificuldade de mecanismos de financiamento capazes de suportar os custos de um processo de mudanças cujos retornos, às vezes lentos, podem comprometer a caixa da companhia numa fase de escasso capital de giro.
Zelo particular deve ser dedicado a este processo para evitar-se a tendência de "baixar a guarda", acreditando-se, aos primeiros resultados, que o problema já foi resolvido. A força do passado é muito forte nas empresas e a tentação para um afrouxamento das exigências é muito grande.
Não podemos deixar de avaliar positivamente os resultados destas mudanças, que levaram considerável parte das empresas à rentabilidade.
O fato de empresas do mesmo setor mostrarem graus de ajustamento diferenciados indica diferentes graus de profundidade na aplicação das medidas de ajuste e de abordagens mais rígidas no enfrentamento das necessárias mudanças.
Quais os próximos passos? Quais os fatores que nos levarão à modernidade? Que variáveis irão afetar o processo de ajuste?
Permito-me listar alguns dos fatores que julgamos relevantes para começarmos a ter respostas:
Aspectospolítico-institucionais
1 - Sucesso do programa de estabilização econômica, com a inflação a níveis compatíveis com os nossos vizinhos da América Latina e uma moeda confiável.
2 - Resultado das eleições: o comportamento empresarial e a sua disposição em acelerar o processo de mudança dependerá da qualidade do futuro presidente e do Congresso.
3 - Programa do novo governo e continuação da reforma da Constituição (em particular a reforma do sistema previdenciário) constituirão grande desafio para 1995 e forte impacto nas decisões empresariais.
4 - Respeito às regras do jogo de livre mercado, com a sustentação institucional de um Judiciário eficaz: regras fiscais e equitativas e permanentes.
Aspectosconjunturais/empresariais
1 - O Mercosul deve ser considerado como uma realidade e as joint ventures, parcerias e associações devem ser intensificadas para dar dimensão a este mercado comum regional.
2 - O fluxo de capitais para países emergentes será importante complemento para a poupança interna.
A manutenção de um fluxo positivo de capitais para países da região será de fundamental importância, principalmente para o Brasil, tendo em vista o grande potencial represado que a nossa economia apresenta, seu mercado interno e o baixo crescimento, em média, experimentado no último decênio.
A disponibilidade de capitais de risco é de fundamental importância para modernizar setores industriais ineficientes.
3 - Será preciso reavaliar as taxas de juros internas. As elevadas taxas de juros asseguram maior rentabilidade nas aplicações financeiras, desestimulando os investimentos produtivos. É necessário reverter este quadro para se obter uma economia competitiva.
4 - Quanto às associações empresariais, é de fundamental relevância que alguns empresários vençam inibições históricas que vêm limitando associações (entre empresas nacionais e/ou estrangeiras), o que aumentaria sua competitividade.
A busca de sócios no mercado de capitais que possam implicar na perda absoluta do controle acionário também terá de ser superada.
Parece-nos que vai ser quase impossível ver a economia brasileira crescendo, caso o setor privado não tenha uma forte base de capital próprio para enfrentar os desafios desse final de século. As limitações ao exercício absoluto do controle do capital votante será certamente um fator impeditivo ou limitativo que terá que ser superado.
5 - Deve haver uma atitude mais agressiva dirigida à exportação. É de fundamental importância que nossos empresários considerem o mercado externo como complemento natural ao seu negócio e não algo com o que se ocupem esporadicamente para superar momentos críticos do mercado interno.
6 - Os empresários precisam dedicar maior atencão para investimentos no exterior. Progressivamente, as empresas brasileiras que hoje têm forte presença no exterior como exportadoras deverão ter que considerar a hipótese de fabricar fora do Brasil. Esse processo vai ser de importância crucial na mudança da cultura empresarial.
Como dissemos, a empresa privada brasileira é vista com muito respeito aqui e no exterior pelo que aqui desenvolveu e pelos resultados já alcançados nesse processo dramático de reajuste.
Não há como, no entanto, deixar de anotar que não podemos descansar e que a tarefa pela frente é tão grande e importante quanto o que já foi feito. Requer muito talento e determinação.
Esperemos que as condições macroeconômicas e políticas internas possam ajudar esse processo.

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